SENADOR NÃO É CRIADO
Ernesto Matoso -
"Coisas de meu tempo", pág. 77.
O Imperador Pedro II nutria uma aversão indissimulável à
bajulação. Por isso mesmo, os homens que menos influência exerciam sobre o seu
ânimo eram os da sua intimidade, principalmente os que ocupavam cargos de
etiqueta na Casa Imperial.
Um destes, seu camarista, subserviente pelo cargo e pela
índole, desejava entrar para a política, e apareceu como candidato de um dos
partidos a uma cadeira no Senado.
Votado em primeiro lugar, foi preterido na escolha pelo
monarca. Três vezes veio, ainda, na lista tríplice e três vezes foi esquecido.
Conhecendo-lhe a doblez como palaciano, o Imperador sabia que esta se não
coadunava com a independência e a altivez indispensáveis a um senador daqueles
tempos.
Ressentido, o camarista indagou de Sua Majestade a razão
de tantas preterições.
- Não tenho queixas contra o senhor, declarou
o soberano.
E deixando patente o motivo:
- É que são tão importantes os serviços que me presta
como "servidor da minha casa", que não quero privar-me deles!
A QUESTÃO CHRISTIE
Ernesto Matoso -
"Coisas do meu tempo", pág. 61.
Era por ocasião da questão Christie, em 1862. Não tendo o
governo imperial atendido a algumas reclamações descabidas da Inglaterra,
iniciou esta uma série de represálias, aprisionando no mar diversos navios
mercantes brasileiros. A multidão, indignada, enchia as ruas e praças do Rio de
Janeiro, reclamando a reação. Até que se aglomerou diante do Paço, pedindo a
palavra do soberano.
Pedro II apareceu a uma das janelas, o rosto severo.
- Calma, senhores, calma! pediu.
E a voz segura de quem não recuará:
- Confiem no meu governo e fiquem certos que, sem honra,
não quero ser imperador!...
A COMENDA DO CÔNEGO
BRITO
Ernesto Matoso -
"Coisas do meu tempo", pág. 92.
O cônego Joaquim Camilo da Silva Brito, republicano
histórico, era já admirado, como homem de grande cultura, pelo Imperador,
quando Sua Majestade o conheceu pessoalmente em Minas por ocasião da sua viagem
àquela província. De regresso à Corte, encantado com as demonstrações de
atenção pessoal recebidas de tão ilustre sacerdote, incluiu Pedro II o seu nome
da lista dos agraciados, concedendo-lhe a comenda da Ordem de Cristo.
Dias depois, aparecia nos A pedidos de uma folha
da Capital a seguinte comunicação:
"AO PÚBLICO - Tendo sido agraciado pelo governo
imperial com a comenda da Ordem de N. S. Jesus Cristo, um eclesiástico de nome
igual ao meu, declaro, para evitar confusões, que desta data em diante, passo a
assinar-me: Vigário Joaquim Camilo de Brito, com um 'l' só".
A QIJEIXA DOS
TUPINAMBÁS
Jean de Lery -
"História de uma viagem à terra do Brasil", ed. De 1926, pág. 154.
Quando Nicolau de Villegaignon se fixou na baía do Rio de
Janeiro, em 1555, os índios tupinambás, que habitavam o litoral, achavam-se na
guerra com a tribo dos maracajás, cujos prisioneiros eram todos devorados. Para
impedir a continuação da antropofagia, procurava o conquistador francês
adquirir por compra todos os prisioneiros, salvando-os, assim, da voracidade do
inimigo.
Essa interferência do hóspede branco negócios da raça não
agradava nada aos tupinambás, um dos quais se queixava, num suspiro a Jean de
Lery:
- Não sei o que será de nós, de agora em diante!...
Depois que Paicolás (nome davam a Villegaignon) veio para a ilha, não comemos
nem a metade dos nossos prisioneiros!...
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).
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