Todo ano, a tão aguardada divulgação dos ganhadores do Prêmio Nobel, feita aos poucos, com anúncio por categoria, dissipa as expectativas dos brasileiros e nos deixa, como a chupar os dedos, diante das escolhas, que, por vezes, contemplam pessoas ou instituições de países de importância periférica, econômica e politicamente.
O orgulho nacional parece ser sublimado por mecanismos de compensação, aventando outros feitos nas áreas dos desportos (futebol, voleibol, automobilismo), da beleza (modelos, misses) e das artes populares (carnaval, música), mas nada de maior relevo, no tocante à ciência, ao humanismo e à cultura, valorizados e dignificados pelos comitês de outorga da valorosa premiação internacional aludida.
Bem que merecíamos ter recebido o dito galardão em várias oportunidades, quando estivemos muito perto de abocanhá-lo, e por injustiça ou razões escusas, foi negada a concessão a cidadãos brasileiros, cujos méritos, reconhecidos além fronteiras, apontam para a falha eventual dessa honraria, como aconteceu, dentre outros, com Carlos Chagas, Rocha e Silva, César Lattes e Dom Helder Câmara.
O último caso foi sobejamente emblemático, e indicativo de um verdadeiro crime de lesa-pátria, perpetrado pelos áulicos do poder. De fato, por obscura e nefanda ação de obtusos agentes a serviço da “diplomacia” do Brasil, foi perdida a maior chance de um cidadão nacional de obter o primeiro Prêmio Nobel, no caso o da Paz, de 1971.
Para rememorar, sabe-se que a candidatura de D. Helder foi sorrateiramente alvejada, a fim de favorecer tal outorga ao premier alemão Willy Brandt, que venceu com velado apoio da nossa ditadura castrense. A ignonímia em questão, praticada contra o Dom da Paz, foi orquestrada para minar a possibilidade da comunidade internacional chancelar, com a magna honraria, aquele tido como o inimigo número um do então regime militar.
Já que um Prêmio Nobel está cada vez mais distante para os brasileiros, talvez fosse o momento de nos contentar em lograr a sua versão picaresca - o “Prêmio Ig Nobel”, criado, em 1991, pela revista “Anais das Pesquisas Improváveis”, e distribuído em nove categorias, em cerimônia que ocorre, anualmente, em Harvard (USA).
Seria uma oportunidade singular de apresentar uma candidatura imbatível, a de Fortaleza, para o recebimento do “Prêmio Ig Nobel da Paz”, por ter denominado de Che Guevara o Centro Urbano de Cultura, Arte, Esporte, Ciência e Lazer (CUCA), inaugurado em 10/09/09, que mereceu manifestação de repúdio de tantos leitores dos maiores diários cearenses.
A dificuldade subsistente, todavia, seria a de identificar o ignóbil mentor da idéia do “CUCA Che” ou o néscio gestor público municipal que o instituiu, a ser aquinhoado com um troféu à altura de sua estultice.
Prof. Dr. Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Médico sanitarista e cidadão inconformado
* Publicado in: Jornal O Povo. Fortaleza, 11 de outubro de 2009. Fato Médico /Reflexões. p.8.
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