O assunto dominante na mídia cearense, nas semanas precedentes aos festejos mominos, foi a instalação de um estaleiro privado, na Praia do Titanzinho, notícia que certamente voltará, a plena carga, após a trégua do Carnaval, passando a ocupar os espaços da comunicação local. Com relação a esse investimento, o governo do estado tem empenhado todas as suas fichas, causando surpresa a objeção da nossa alcaidessa, normalmente submissa aos ditames do Sr. Governador.
O cerne da polêmica reside, principalmente, na localização escolhida, uma praia reduto de surfistas, situada no bairro Serviluz, em Fortaleza. Arautos de diferentes facções, com distinta extração técnica ou política, movidos mais pela paixão do que pela razão, alinham-se, contra ou a favor do local cogitado para o empreendimento, assacando-lhe as desvantagens ou vantagens locacionais, respectivamente, enquanto adeptos de uma terceira via optam pelo simples e radical banimento da empreitada do litoral alencarino, alegando os prováveis efeitos devastadores que essa indústria naval acarretaria ao ambiente.
É inusitado, todavia, que os argumentos em jogo não tenham sido canalizados para uma demonstração mais cabal, do tipo análise de custo-benefício, complementada por simulações de análise de sensibilidade, cobrindo um longo prazo. Se é que isso foi providenciado, é lamentável não ter chegado ao conhecimento público.
Para encerrar essa pândega, o é melhor é pensar que, por enquanto, para o Titanzinho, seria mais prudente instalar estalagens, transformando parte dos seus moradores em estalajadeiros, pulverizando assim benefícios em prol de uma enorme diversidade de agentes econômicos, transmutados em microempresários, mais devotados ao eco-turismo, ao invés de serviçais da forja de Vulcano, produtores de escudos contra Titãs.
Não custa lembrar que ali é o paraíso dos surfistas residentes em suas imediações, de lá tendo saído Tita Tavares, uma atleta de renome internacional que maravilha o mundo com suas acrobacias em cima de uma prancha.
Quanto ao estaleiro, jocosamente, seria conveniente transferi-lo para Sobral, implantando-o às margens do rio Acaraú, apostando no vaticínio de uma cassandra, autora de uma suposta profecia, que circulou aqui, há uns três anos, advertindo que um avassalador tsunami varreria o litoral cearense, fazendo de Fortaleza uma nova Atlântida, uma cidade submersa, e convertendo a Princesa do Norte em cidade litorânea, guindando-a ao “status” de nova capital do Ceará.
Nessa ocasião, assegurando o bom humor futurístico, e, naturalmente, não turístico, ao cabo de alguns pares de anos, quando o desastre natural se consumar, o estaleiro recém-construído estaria postado à beira-mar, de onde escoaria, para singrar os sete mares, as oito embarcações nele produzidas, por encomenda da Transpetro, e, quem sabe, compondo uma série batizada de Titanic I, II, III .... e por aí vai.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Economista da Saúde
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