NÃO QUERO!
Moreira de Azevedo - "Mosaico Brasileiro", pág. 53.
Exercia Agostinho Petra Bittencourt o cargo de juiz aposentador no Rio de Janeiro, quando, ao dar uma ordem a um dos seus subordinados, este recusou cumpri-la. Indagada a razão, respondeu laconicamente:
- Porque não quero!
Preso o funcionário pelo juiz, e recolhido à cadeia, foi o magistrado surpreendido, no dia seguinte, por uma carta do Paço, em que um dos maiorais da corte lhe ordenava que soltasse o preso, por não se considerar crime a expressão - "não quero".
À leitura da ordem, o juiz Petra, que era desabusado, voltou-se para o portador:
- Diga ao seu amo que, se não é crime dizer não quero ...
E furioso:
- Não solto o homem - porque "não quero"!
NEGRO, MAS SÁBIO
Gustavo Barroso - Discurso na Academia Brasileira de Letras, 1923
Realizava Dom Silvério Gomes Pimenta, arcebispo de Mariana, uma das suas peregrinações a Roma, quando ali, em uma reunião de prelados de todo o mundo, um deles, branco, fez alusão à cor do antístite brasileiro.
- Negro! - teria exclamado, no seu idioma, o sacerdote inconveniente.
Mas não ficou muito tempo sem resposta. Porque, estacando de súbito, um dos bispos brasileiros retrucou, logo, com orgulho:
- "Niger, sed sapiens"!
O SEU A SEU DONO
J.M.de Macedo - "Ano Biográfico", vol. I, pág. 11.
Era Manuel Antônio Galvão ministro do Império em 1839, quando vagou o lugar de bibliotecário público da Corte. Multiplicaram-se os candidatos e, com eles, os empenhos.
- Esse lugar pertencerá a um homem que nunca me lisonjeou, e que não pede, declarou.
E nomeou Januário da Cunha Barbosa.
O DESTINO DO IMPERADOR
Ernesto Sena - "Deodoro", pág. 42.
Em uma das reuniões preparatórias do movimento republicano, a 6 de novembro, em casa de Benjamim Constant, assentavam-se planos quando Benjamim, de repente, indagou:
- E que faremos do "nosso Imperador"?
Um silêncio profundo foi a resposta. A figura bondosa e justa do monarca infundia respeito a todos aqueles conspiradores, impedindo uma resolução. Quebrou, porém, esse silêncio, o tenente Manuel Inácio.
- Exila-se! - disse.
- E se resistir?
- Fuzila-se! - declarou o tenente.
Todos se levantaram, numa reprovação,
- Oh! fez Benjamim, refletindo a repugnância de todos. - O senhor é sanguinário!
E entre a aprovação geral:
- Ao contrário, devemos cercá-lo de todas as garantias e considerações, porque é um nosso patrício, e muito digno!
GATUNAGEM GLORIOSA
Rodrigo Otávio - Revista da Academia Brasileira de Letras n° 27.
Nos primeiros dias do século possuía a Academia de Letras na sua sede, no escritório de Rodrigo Otávio, uma coleção de retratos metidos em molduras modestas, e que eram os de Machado de Assis, Taunay, Joaquim Nabuco, e outros, formando galeria. Por esse tempo, era costume da Polícia, para prevenir o público, expor nas estações da Central, nos subúrbios, os retratos de todos os batedores de carteiras mais temíveis da cidade.
Um dia, vai à sede da Academia uma senhora, constituinte de Rodrigo Otávio, levando em sua companhia uma filha de cinco anos. A pequena olha, examina os retratos, e, de repente, voltando-se para a moça:
- Mamãe, quem são aqueles gatunos?
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927)
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