PREFÁCIO
Caiu-me nas mãos, e não por acaso, o material produzido por Tânia Maria C. Albuquerque, com o título “Maracanaú - Paisagens e Memórias”. É que a autora queria que eu prefaciasse esse seu trabalho, o que faço, aliás, com muito gosto, pela oportunidade que me é dada de revisitar, através das suas precisas lentes, os cenários natural e urbano daquele pedaço de chão, encravado na região metropolitana de Fortaleza.
Por muitos e muitos anos, desde que me enxergo como gente, fui morador do Bairro Otávio Bonfim (na verdade, Farias Brito), nas proximidades da estação de trem, logradouro que me traz grandes recordações da meninice e da adolescência ali vividas. O trabalho de Tânia Albuquerque trouxe-me às retinas a lembrança das férias escolares passadas em Senador Pompeu, quando, de volta para casa, a parada do trem, em Maracanaú, prenunciava a próxima entrada em Fortaleza. Saltando, no tempo, para a vida adulta, Maracanaú a mim reaparece, quando, na condição de sanitarista recém-concursado da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará, fui conhecer o antigo sanatório de tisiologia e a Colônia Antônio Justa, como parte das atividades do estágio admissional exigido para o exercício daquele cargo. Um pouco mais adiante, na linha cronológica, vem a relembrança de um passeio até Maracanaú, para mostrar aos meus dois pequerruchos como era “andar de trem”.
Tendo todo esse farto apanhado sobre a localidade que ganhou esse nome por causa das maracanãs que vinham se esbaldar na lagoa, fazendo também grande alarido na areia quente, nada me soa diferente do que eu já conhecia. Daí não me furtar de, por meio dos instantâneos colhidos em câmeras fotográficas, dar um passeio pelo passado, revisitando sítios e refazendo antigas caminhadas pelo mercado, para alcançar, no presente, esse pólo de desenvolvimento em que se converteu o município que tem, hoje, a segunda maior arrecadação de impostos, no estado do Ceará.
Tânia Albuquerque não fez só uma descrição da cidade onde nasceu. Ela foi mais além, jogando todo o seu fôlego na documentação dos fatos históricos da sua terra natal. Dessa forma, carregou nas tintas, esmerou-se no uso do vernáculo e pôs à mostra o espírito vivaz da fotógrafa, talhada para investigar os acontecimentos, sem se descuidar de manter fidelidade às fontes oficiais e/ou mesmo oficiosas.
A preocupação da autora com o registro do tempo – passado e presente de Maracanaú, está cristalizada na série de fotografias, a maior parte de sua lavra artística, que caprichosamente organizou para dar ao público apreciador da sua obra, uma visão real do que era o município nas décadas passadas e do que ele representa, na atualidade, mais moderno, mais progressista, mas também bem mais exposto às mazelas sociais que vêm, não raro, associadas ao crescimento urbano desordenado e ao inchaço da população.
Este trabalho tem, realmente, grande valor histórico e está pronto para colocar Tânia Albuquerque no circuito das artes, como uma vocacionada para a pesquisa documental, a tanto aliando sua natureza contemplativa, fato incontestável quando reproduz, com sensibilidade não disfarçada, o bucolismo da Maracanaú de antigamente, “com cadeiras na calçada”, faz a consagração dos heróis da sua terra, vivos e mortos, que escreveram (alguns ainda escrevem) páginas de uma história marcada com sangue, entusiasmo, esforço e suor.
A Maria Fumaça 105, com sua onomatopéia “café-com-pão, bolacha-não”, já é coisa do passado, como deixa a autora entrever nas entrelinhas da obra que está sendo prefaciada. Mas as paisagens e memórias que conseguiu documentar, estas estão muito vivas e tanto ontem, como agora e amanhã, certamente valem para confirmar que a história de um povo representa o seu maior patrimônio.
Não sei quem mais merecedor de parabéns: se a dona deste alentado trabalho de resgate fotográfico, devidamente acompanhado de pesquisa bibliográfica; se o município de Maracanaú, eixo central em torno do qual a obra gravita; ou se este prefaciador que, usando de um recurso metafórico, entrou no túnel do tempo para observar a cidade, sob as luzes dos refletores, enquanto via a palavra mágica fazer reverência à estética, e se deliciava escutando o som imaginário das maracanãs, quebrando não só o silêncio da leitura, mas a placidez do local que se acostumou a ser um braço de Maranguape e, num rompante, acabou por destruir o mito da criação, com a criatura superando o criador, sob o prisma econômico.
Tenho comigo que Deus, quando fez Maracanaú, estava brincando de tirar do nada, praticamente tudo. Tânia Albuquerque soube aproveitar essa deixa, e é assim que acabou por se revelar uma “expert” em colher flagrantes denunciadores de que o progresso acontece, muito embora seguido, nos calcanhares, por quem pouco se dá conta da importância de preservar o ambiente natural, onde os fatos se desenrolam.
Ao acender o sinal amarelo, com este seu trabalho, Tânia Albuquerque dá uma lição de cidadania, colocando-se como guardiã cuidadosa da memória do seu povo e vigilante permanente das ações que se desenvolvem no cotidiano atual da sua terra, tudo isso podendo ser resumido em cinco breves palavras: ela sabe o que faz.
Ninguém tenha, pois, qualquer dúvida: Maracanaú ainda irá lhe render grandes homenagens. É só esperar.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Da Academia Cearense de Medicina
Nota: Ontem, dia 15/07/2010, fiz a apresentação desse livro, em concorrida solenidade de lançamento realizada no Ideal Clube, obra cujo prefácio tive também a honra de assumir.
Caiu-me nas mãos, e não por acaso, o material produzido por Tânia Maria C. Albuquerque, com o título “Maracanaú - Paisagens e Memórias”. É que a autora queria que eu prefaciasse esse seu trabalho, o que faço, aliás, com muito gosto, pela oportunidade que me é dada de revisitar, através das suas precisas lentes, os cenários natural e urbano daquele pedaço de chão, encravado na região metropolitana de Fortaleza.
Por muitos e muitos anos, desde que me enxergo como gente, fui morador do Bairro Otávio Bonfim (na verdade, Farias Brito), nas proximidades da estação de trem, logradouro que me traz grandes recordações da meninice e da adolescência ali vividas. O trabalho de Tânia Albuquerque trouxe-me às retinas a lembrança das férias escolares passadas em Senador Pompeu, quando, de volta para casa, a parada do trem, em Maracanaú, prenunciava a próxima entrada em Fortaleza. Saltando, no tempo, para a vida adulta, Maracanaú a mim reaparece, quando, na condição de sanitarista recém-concursado da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará, fui conhecer o antigo sanatório de tisiologia e a Colônia Antônio Justa, como parte das atividades do estágio admissional exigido para o exercício daquele cargo. Um pouco mais adiante, na linha cronológica, vem a relembrança de um passeio até Maracanaú, para mostrar aos meus dois pequerruchos como era “andar de trem”.
Tendo todo esse farto apanhado sobre a localidade que ganhou esse nome por causa das maracanãs que vinham se esbaldar na lagoa, fazendo também grande alarido na areia quente, nada me soa diferente do que eu já conhecia. Daí não me furtar de, por meio dos instantâneos colhidos em câmeras fotográficas, dar um passeio pelo passado, revisitando sítios e refazendo antigas caminhadas pelo mercado, para alcançar, no presente, esse pólo de desenvolvimento em que se converteu o município que tem, hoje, a segunda maior arrecadação de impostos, no estado do Ceará.
Tânia Albuquerque não fez só uma descrição da cidade onde nasceu. Ela foi mais além, jogando todo o seu fôlego na documentação dos fatos históricos da sua terra natal. Dessa forma, carregou nas tintas, esmerou-se no uso do vernáculo e pôs à mostra o espírito vivaz da fotógrafa, talhada para investigar os acontecimentos, sem se descuidar de manter fidelidade às fontes oficiais e/ou mesmo oficiosas.
A preocupação da autora com o registro do tempo – passado e presente de Maracanaú, está cristalizada na série de fotografias, a maior parte de sua lavra artística, que caprichosamente organizou para dar ao público apreciador da sua obra, uma visão real do que era o município nas décadas passadas e do que ele representa, na atualidade, mais moderno, mais progressista, mas também bem mais exposto às mazelas sociais que vêm, não raro, associadas ao crescimento urbano desordenado e ao inchaço da população.
Este trabalho tem, realmente, grande valor histórico e está pronto para colocar Tânia Albuquerque no circuito das artes, como uma vocacionada para a pesquisa documental, a tanto aliando sua natureza contemplativa, fato incontestável quando reproduz, com sensibilidade não disfarçada, o bucolismo da Maracanaú de antigamente, “com cadeiras na calçada”, faz a consagração dos heróis da sua terra, vivos e mortos, que escreveram (alguns ainda escrevem) páginas de uma história marcada com sangue, entusiasmo, esforço e suor.
A Maria Fumaça 105, com sua onomatopéia “café-com-pão, bolacha-não”, já é coisa do passado, como deixa a autora entrever nas entrelinhas da obra que está sendo prefaciada. Mas as paisagens e memórias que conseguiu documentar, estas estão muito vivas e tanto ontem, como agora e amanhã, certamente valem para confirmar que a história de um povo representa o seu maior patrimônio.
Não sei quem mais merecedor de parabéns: se a dona deste alentado trabalho de resgate fotográfico, devidamente acompanhado de pesquisa bibliográfica; se o município de Maracanaú, eixo central em torno do qual a obra gravita; ou se este prefaciador que, usando de um recurso metafórico, entrou no túnel do tempo para observar a cidade, sob as luzes dos refletores, enquanto via a palavra mágica fazer reverência à estética, e se deliciava escutando o som imaginário das maracanãs, quebrando não só o silêncio da leitura, mas a placidez do local que se acostumou a ser um braço de Maranguape e, num rompante, acabou por destruir o mito da criação, com a criatura superando o criador, sob o prisma econômico.
Tenho comigo que Deus, quando fez Maracanaú, estava brincando de tirar do nada, praticamente tudo. Tânia Albuquerque soube aproveitar essa deixa, e é assim que acabou por se revelar uma “expert” em colher flagrantes denunciadores de que o progresso acontece, muito embora seguido, nos calcanhares, por quem pouco se dá conta da importância de preservar o ambiente natural, onde os fatos se desenrolam.
Ao acender o sinal amarelo, com este seu trabalho, Tânia Albuquerque dá uma lição de cidadania, colocando-se como guardiã cuidadosa da memória do seu povo e vigilante permanente das ações que se desenvolvem no cotidiano atual da sua terra, tudo isso podendo ser resumido em cinco breves palavras: ela sabe o que faz.
Ninguém tenha, pois, qualquer dúvida: Maracanaú ainda irá lhe render grandes homenagens. É só esperar.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Da Academia Cearense de Medicina
Nota: Ontem, dia 15/07/2010, fiz a apresentação desse livro, em concorrida solenidade de lançamento realizada no Ideal Clube, obra cujo prefácio tive também a honra de assumir.
Eu colaborei nesse livro com algumas fotos de meu acervo e também participei da noite de autógrafos no Ideal Clube, dia 15/07/2010.
ResponderExcluirPara ver fotos antigas de Maracanaú e suas histórias acesse os links abaixo:
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