terça-feira, 26 de abril de 2011

O BRASIL ANEDÓTICO XXVII

A CRUZ DE OURO
Moreira de Azevedo - "Mosaico Brasileiro", pág. 65.
O carmelita frei Antônio Gonçalves Cruz, natural de Guaratinguetá, era uma das figuras principais do clero do Rio, quando adoeceu, e cegou. Indo visitá-lo, o cardeal Calepi, então na nunciatura da corte brasileira, tocou-lhe os olhos com a cruz de ouro que trazia pendente do pescoço. Mãos trêmulas, o sacerdote tateou o cordão, e apalpando a cruz, sorriu, triste.
- Fiquei do mesmo modo, senhor núncio. E com a sua ironia de pobre:
- Se a cruz fosse de pau, talvez produzisse algum milagre.
A PARTE DO CAVALO
Ernesto Sena - "Deodoro", pág. 151.
Era Deodoro presidente da República quando o convidaram para visitar o atelier de Rodolfo Bernardeli, no qual se achava, quase acabado, o quadro representando a proclamação da República.
O velho soldado parou diante da tela, na qual a sua figura varonil aparecia montando um ginete árdego, examinando-o, atento.
De repente, voltou-se para os que o acompanhavam.
- Vejam os senhores! - disse.
E indicando o quadro:
- Quem lucrou no meio de tudo aquilo foi o cavalo!...
O CARRO SEM DONO
Alfredo Pujol - Discurso na Academia Brasileira de Letras.
Não obstante a agudeza do seu entendimento, Lafayette não tinha confiança na estabilidade do regime republicano. Acreditava que, de um momento para outro, a monarquia seria restaurada.
- Um dia a gente encontra na rua o carro do Estado abandonado. É só trepar à boléia e fazê-lo andar...
A FUGA DO TENENTE
Paulo Barreto - Discurso na Academia Brasileira de Letras.
Preso durante a revolta, foi Guimarães Passos obrigado a assentar praça na Guarda Nacional, no posto de cabo. Vítima de um inimigo rancoroso, escreveu a um amigo, pessoa de confiança do governo, este bilhete rápido:
"Salva-me de ser cabo, para ser alferes, ao menos."
Aflito, o amigo procurou o comandante da milícia, arranjou-lhe posto melhor, farda, dinheiro, e mandou-lhe tudo. E, à noite, recebia outro bilhete:
"Promovido tenente sigo grato rumo ao mar."
E fugiu para a Argentina.
O PRESTÍGIO DA GUARDA
J.M. de Macedo - "Ano Biográfico", vol. I, pág. 156.
Na sessão legislativa de 1837, acabava Diogo Antônio Feijó de apresentar o seu relatório propondo medidas audaciosas para manter a ordem à revelia das forças regulares, quando um deputado, à sua direita, indagou:
- V. Excia. tem quarenta mil homens para sustentar as idéias do relatório?
- Não; mas tenho quarenta mil guardas nacionais!
ABNEGAÇÃO DE CHEFE
Rio-Branco - Com. a "História da Guerra do Paraguai", cap. XVIII.
A coluna brasileira de Mato-Grosso recuava acossada pelos paraguaios e dizimada pelo cólera, quando, chegada a um pouso, foram procurar o comandante, o coronel Camisão, para comunicar-lhe novas mortes. Encontraram-no com a fisionomia alterada, em dores atrozes. O médico da expedição, o dr. Gesteira, quis experimentar uma nova aplicação de remédios.
O chefe recusou, porém:
Deixe-me morrer tranqüilo; nada me pode salvar: socorra antes aos soldados que ainda possam escapar...
E morreu.
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927)

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