quarta-feira, 13 de julho de 2011

NOVOS ESCÂNDALOS, VELHOS CONCHAVOS

Por Ricardo Alcântara (*)
Tornou-se irrelevante saber se eram ou não idôneas as motivações do governador Cid Gomes quando ele desqualificou como “incompetente e desonesto” o então ministro dos Transportes Alfredo Nascimento.
Agia em defesa legítima dos interesses do Ceará, como dissera, ou apenas movido pelo desejo mesquinho de se apossar da direção estadual do Dnit e distribuir politicamente as verbas disponíveis? Agora, pouco importa.
O próprio ministro tratou de certificar o atestado expedido pelo governador quando ofereceu seu pedido de demissão, recuando silenciosamente ao ver seus principais assessores ministeriais demitidos sob suspeita de corrupção.
A presidente Dilma Rousseff não apenas exigiu a demissão do staff ministerial: ela o fez de forma humilhante, sem poupar o ministro do constrangimento de ver evidenciada a decisão como exclusivamente dela.
Dilma não poderia ter sido menos gentil. Em seis meses de governo, foi, também contaminado pelo odor perene dos ralos brasilienses, ejetado o segundo ministro de Estado. É muito barulho para tão pouco tempo.
De saída, ficam duas perguntas: com a demonstração explícita de zelo, quanto Dilma agrega em sua imagem pública? A outra: Quanto ao nível de estabilidade política do seu governo, até onde o projeto perde? Ainda não se sabe.
Quem deve andar assustado é o cidadão Luís Inácio da Silva. O episódio esclarece a diferença de estilo entre a criatura e seu criador, que preferia investir mais no esgotamento da notícia do que na reparação dos fatos.
O mais que notório para quem observa Brasília de perto é que o ministério dos Transportes – e o fato antecede em muito a gestão de Alfredo Nascimento – é uma ilha de esperteza cercada de comprovada corrupção por todos os lados.
Dilma sabe disso com mais detalhes do que o mais bisbilhoteiro araponga da Abin. Então por que agiu somente agora? Por dois motivos que se combinam e ninguém com mínima experiência jamais os tomaria como dissociados.
O primeiro: as investigações da Polícia Federal sobre certos episódios do ministério já haviam cruzado a linha de contenção. O segundo, todos viram: a consistência das denúncias publicadas na revista Veja - é lama na veia.
Mesmo sem contar com a liderança popular de um Lula, Dilma Rousseff tem dado sinais de que pretende enfrentar o desafio de impor certos limites ao apetite fisiológico de seus aliados. Até quando ela resistirá? Eis a questão.
Mas não esperem deste episódio muito mais do que ele já rendeu como desgaste político para o governo e munição para a oposição: o caso logo será despejado na cesta sem fundo dos escândalos recicláveis de Brasília.
Tudo indica que um grande acordo foi oferecido e aceito para preservar a presença do partido de Alfredo Nascimento na base de apoio governista: o PR come a bronca das demissões, mas as denúncias não avançarão.
Sim, porque, em depoimento no senado, Antonio Pagot (Dnit) tratou de livrar a cara de todo mundo, contrariando informações, vazadas deliberadamente, de que o governo sairia chamuscado pelas suas revelações.
A ameaça velada deve ter sido suficiente para produzir um pacto entre os principais aliados do governo e sepultar o episódio na linha do “vão mais devagar por lá que eu seguro as pontas por aqui”. Mais Brasil, impossível.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.

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