terça-feira, 26 de julho de 2011

O BRASIL ANEDÓTICO XXX

A ESPADA DO HERÓI
Contada pelo Dr. Mário Brant.
Ocupava o general Osório a pasta da Guerra quando em um dos despachos coletivos no Paço, o Imperador, minado pelas moléstias e pela velhice, começou a cochilar, e adormeceu, na presença mesmo dos seus ministros. Estes entreolharam-se, numa consulta silenciosa. Que fazer, em semelhante emergência? Irem-se embora? Seria uma desconsideração. Chamá-lo? Seria um desrespeito.
Osório teve uma idéia. Desafivelou o cinturão, e, como inadvertidamente, deixou cair a espada, com estrondo, no soalho. Despertando com o barulho, o monarca, vendo o que era, objetou-lhe, sorrindo:
- Certo, Sr. general, a sua espada não caía assim no Paraguai.
- Absolutamente, majestade! - contestou o herói.
E num assomo repentino de orgulho:
- Mesmo porque, no Paraguai, não se dormia!
O SUPLÍCIO DE GREGÓRIO
Moreira de Azevedo - "Mosaico Brasileiro", pág. 15.
Irreverente nas suas sátiras, foi Gregório de Matos chamado em palácio pelo governador Caetano de Melo, o qual o proibiu de fazer versos, atacando fosse quem fosse. Dias depois passava o poeta por uma das ruas da Baía, quando viu duas mulheres eugalfinhadas, e em atitude ridícula. Fez uma corneta com as mãos, e pôs-se a gritar:
- Aqui d'El-Rei contra o Sr. D. Caetano de Melo!
Acorreram populares, indagando o que era. E o poeta, aflito, de um lado para outro:
- Proibiu-me de fazer versos quando me oferecem assuntos como este!
O NETO DE MARCO AURELIO
Múcio Teixeira - "O Imperador visto de perto", pág. 71.
Ao contar a Vítor Hugo o modo por que distribuía o seu tempo, o Imperador Pedro II observou-lhe que não tinha "direitos" sobre seu povo: tinha "deveres", que lhe couberam por acasos da fortuna e do nascimento.
E o poeta, comovido:
- Senhor, sois um grande cidadão! Sois o neto de Marco Aurélio!
O POLIGLOTA
Narrado pelo professor Raul Pederneiras.
Achava-se Emílio de Menezes em uma roda da Pascoal, quando chegou um amigo e apresentou-lhe um rapaz que vinha em sua companhia:
- Apresento-te Fulano; é nosso patrício e tem corrido o mundo inteiro. Fala corretamente o inglês, o francês, o italiano, o espanhol, o alemão.
O rapaz sorria, modesto, ante os elogios e a palestra voltou ao que era. Ao fim de uma hora, durante a qual apenas proferiu alguns monossílabos, o viajante despediu-se, e se foi embora.
- Que tal esse camarada? - perguntou a Emílio um dos da roda.
- Inteligentíssimo e, sobretudo, muito criterioso, - opinou o rei dos boêmios.
- Mas, ele não disse palavra.
- Pois, por isso mesmo, - tornou Emílio.
E rindo:
- Você não acha que é ter talento saber ficar calado em seis línguas diferentes?
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).

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