domingo, 28 de agosto de 2011

O BRASIL ANEDÓTICO XXXI

A SABEDORIA DE FREI DIOGO
Moreira de Azevedo - "Mosaico Brasileiro", pág. 36.
O ano de 1702, de seca intensa, abrasava o nordeste, até Pernambuco. Alarmada, a população de Olinda foi procurar o bispo D. Frei Diogo de Jesus Jardim, pedindo-lhe licença para uma procissão de penitência.
- Nada de procissões, meus filhos, - protestou o velho prelado, notável pelas suas virtudes; - a verdadeira penitência consiste na emenda da vida e na reforma dos costumes. Emendai-vos, e a chuva há de cair.
A multidão retirou-se, contrita.
No dia seguinte começou a chover.
O MONARCA REPUBLICANO
Múcio Teixeira - "O Imperador visto de perto", pág. 69.
Ao visitar, em 1877, Vítor Hugo, cujo estro fulminava as testas coroadas do século, o Imperador Pedro II fez-lhe uma observação piedosa:
- Não queira mal aos "meus colegas". Eles vivem tão rodeados, tão enganados, que não podem ter as "nossas idéias".
E o poeta, com tristeza:
- Sois o único, Senhor, infelizmente...
A ÚNICA MAJESTADE
Múcio Teixeira - "O Imperador visto de perto", pág. 70.
Ernesto Sena - "Deodoro", pág. 149.
Após a apresentação da sua netinha Jeanne ao Imperador do Brasil, Vítor Hugo foi buscar pela mão o seu neto:
- Senhor, tenho a honra de apresentar o meu neto Jorge a Vossa Majestade.
O Imperador abraçou a criança, e, alisando-lhe os cabelos:
- Meu filho, aqui não há mais que uma majestade.
E indicando o poeta:
- Ei-la!
FALTA DE SORTE
Ernesto Sena - "Deodoro", pág. 149.
Quando presidente da República, era Deodoro procurado por dezenas de indivíduos que se diziam republicanos de longa data e que se consideravam, por isso, com direito a serem amparados pelo novo regime. Um deles, homem de idade avançada, queixava-se, certa vez, insistentemente, da ingratidão da pátria, pois que havia sido propagandista, e era republicano há mais de trinta anos.
- Ora, meu caro amigo, - atalhou Deodoro, - eu sou republicano a datar de 15 de novembro, e já cheguei a presidente da República. Logo, a República não é ingrata.
E estendendo-lhe a mão para despedi-lo:
- O senhor é que é caipora!
A ÁGUIA... E O "TICO-TICO"
Constâncio Alves - Revista da Academia Brasileira de Letras, n° 39, pág. 243.
Rui Barbosa era um espírito faminto de leituras. Lia tudo. Passava pelos olhos todos os jornais do Rio, quase todas as revistas, e não dispensava à cabeceira, para conciliar o sono, um romance policial.
Certa vez, em conversa com Constâncio Alves, citou o grande publicista um conto infantil, que lhe havia despertado interesse.
- Onde V. Excia. o leu? - teria indagado Constâncio.
E o mestre:
- Não estou certo; creio, porém, que foi no Tico-Tico...

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