Em 2008, o preclaro confrade da Academia Cearense de Medicina, José Eduilton Girão, publicou “Clínica Médica no Ceará – passado e presente”, um alentado livro, que exibe o seu hercúleo esforço de recuperar, por intermédio de perfil dos médicos e das instituições de saúde, a evolução da Clínica Médica no torrão alencarino, configurando uma valorosa contribuição ao estudo da História da Medicina do Ceará.
Agora, pouco mais de dois anos decorridos, Dr. Eduilton Girão dá, à estampa, outra obra, igualmente de fôlego, mas bem diferente da temática da anterior, e que, por sua abrangência, deverá despertar um interesse geral, alcançando distintos públicos, ávidos por dispor de informações preciosas do seu conteúdo.
Dr. Eduilton não é um turismólogo, ou um profissional afeito à área do turismo, e dele também não se pode dizer que viaja ao exterior, movido por apego hedonista, ou com o fito simplório de fazer compras ou ainda com propósitos consumistas. Alguns, como se sabe, buscam, com viagens ao estrangeiro, captar rendimentos “sociais”, por puro exibicionismo, a fim de arrotar uma suposta erudição.
Na verdade, o foco primordial de seus deslocamentos é o aperfeiçoamento médico, para participação em congresso da sua especialidade, realização de estágio profissional ou visita a instituições relacionadas à Medicina. Essas viagens beneficiam, inclusive, e duplamente, a sua vasta clientela, que o tem de volta, renovado em conhecimentos amealhados nos eventos científicos e revigorado, fisicamente, para enfrentar a dura faina de clínico requisitado, como ele, tido por seus pares como um dos médicos mais completos destas plagas, por aliar ciência, cultura e humanismo em sua prática médica.
Nesse parcimonioso périplo pelo mundo à fora, sempre custeado por recursos próprios, ao estender um pouco a sua permanência, Eduilton Girão otimiza as oportunidades para sorver o máximo da cultura do local visitado, enriquecendo o seu vasto cabedal de conhecimentos que, por sua notória modéstia, é ignorado pela maioria das pessoas que não priva da sua maior proximidade.
O Brasil, fruto da colonização europeia, que aqui, culturalmente, mesclou-se aos elementos ameríndios e aos dos deportados do continente africano, formando um cadinho de saudável miscigenação, aos quais se agregaram os componentes migratórios do período republicano, mantém estreitas conexões com a Europa, da qual recebeu forte influência, conformando princípios e valores que pautam a vida nacional.
Eduilton refaz o caminho inverso dos europeus aportados na Terra Brasilis com Cabral, fazendo de Portugal o seu ponto de chegada, no Velho Continente, daí, prosseguindo pela península ibérica, passando pela ensolarada Espanha; segue o seu trajeto narrativo, ao passar pela Itália, país que concentra os maiores tesouros legados da cultura romana; alcança o outro lado da Mancha, a Inglaterra, ou a velha Albion; de volta à parte continental, retoma a descrição da bela e romântica França; cruza as linhas Maginot e Siegfried, adentrando na rica e organizada Alemanha, de onde, até lembrando a Wehrmacht (com a sua “blitzkrieg”, antes da tenaz resistência russa), avança na Dinamarca, Bélgica e Holanda; interioriza-se na Europa Central, descrevendo as belezas da Áustria, da República Tcheca e da Hungria; sobe a Europa Setentrional, para revelar a fria Escandinávia (Suécia, Noruega e Finlândia); volta pela Rússia dos tzares e pelos Países Bálticos, dantes encobertos por uma cortina férrea. Completa o circuito, revolvendo o passado de antigas civilizações, que, em parte, serviram de berço ao mundo ocidental: Grécia, Israel e Turquia.
Esse livro difere muito dos que são destinados aos turistas, repletos de dicas e de mapas para facilitar a vida do viajor. A obra até lembra um pouco o famoso “Almanaque Abril”, editado anualmente, que fazia parte da leitura corriqueira dos jovens das classes sociais mais abonadas; essa, porém, é mais rica, pelo que incorpora de informações culturais, advindas de extensas pesquisas em fontes bibliográficas e em sites especializados da internet, complementada por preciosas ilustrações, além de conter depoimentos pessoais do Eduilton, conferindo erudição aos textos.
Em muitos trechos do livro, afloram os caros valores cristãos do autor, recentemente homenageado pela Sociedade Médica São Lucas, da qual é ativo integrante, com a Comenda Médica São Lucas de 2010, em reconhecimento ao altruísmo e à generosidade do Eduilton, tão presentes na sua existência.
A publicação que tenho a honra a e o prazer de prefaciar, é mais uma evidente demonstração da bondade e do compromisso cristão do autor, em compartilhar, com seus concidadãos parcela do muito que absorveu sobre a cultura ocidental, em suas viagens.
Feliz de quem procura repartir o pão, para saciar o corpo. Mais feliz ainda, é quem sabe dividir com outros o conhecimento, para matar a fome da alma. Eduilton Girão faz as duas coisas, exemplarmente. A ele, a nossa reverência, pelo que é e pelo que consegue realizar.
Da Academia Cearense de Medicina
* Prefácio In: Girão, J.E. À leste do Atlântico: a propósito de algumas viagens. Fortaleza: Expressão, 2011.
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