quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O BRASIL ANEDÓTICO XXXII

PRETO NÂO PENSA
Domingos Barbosa - "Silhuetas", pág. 39.
Era Paula Duarte, espécie de Paula Ney maranhense, membro da Junta Governativa instituída no seu Estado com a proclamação do regime republicano, quando um popular, homem de cor, o atacou, em discurso, num comício. Preso à ordem de Casemiro Cunha, chefe de polícia, foi Paula Duarte, em pessoa, interrogá-lo:
- Por que a sua agressão? Diga!
- "Seu" doutor, - começou o preto, gaguejando; - eu pensei...
- Pensou?... - fez Paula Duarte, interrompendo-o. - Tu já viste preto pensar?
E voltando-se para o chefe de polícia:
- Casemiro, quando ele te definir o que é "pensamento", solta-o!
Nota: É politicamente incorreta; mas deve ser considerada a época do episódio.
CALDAS DE COBRE E DE OURO
Moreira de Azevedo - "Mosaico Brasileiro", pág. 24.
Domingos Caldas Barbosa, poeta popular e de cor parda, hostilizado por Bocage, improvisava à guitarra quando surgiu o português Caldas, riquíssimo negociante. Ao vê-lo, o repentista improvisou, logo:
Tu és Caldas, eu sou Caldas,
Tu és rico e eu sou pobre;
Tu és o Caldas de ouro,
Eu sou o Caldas de cobre!
Foi um sucesso.
VIZINHANÇA PERIGOSA
Múcio Teixeira - "Os Gaúchos", vol. I, pág. 205.
Era Osório ministro, quando uma tarde, em despacho do gabinete com o Imperador, um colega, que sentava logo junto, ao tomar o areeiro, bateu com o cotovelo no tinteiro, derramando-o. A tinta espalhou-se pela mesa, alcançando vários decretos da pasta da Guerra.
Osório aborreceu-se.
- Caramba, camarada! - exclamou.
E batendo os papéis:
- Não se pode acampar a seu lado!...
ESTADO DE DELIBERAR
Tobias Monteiro - "Pesquisas e depoimentos", pág. 28.
O gabinete de 7 de março batia-se contra uma oposição violenta, quando, um dia, na Câmara, um deputado mais veemente, interpretando ao pé da letra uma frase de Chateaubriand citada pelo Visconde do Rio-Branco, declarou que este já havia confessado, ele próprio, ter sido tratado como lacaio pelo Imperador.
O presidente do Conselho teve um assomo de indignação. E, grave, deixou cair, apenas, como resposta, estas palavras parlamentares, empregadas ordinariamente quando há um ébrio na assembléia:
- O nobre deputado não se acha em estado de deliberar...
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).

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