segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

DO PÚBLICO À PRIVADA

Em 1947, o Governo Dutra colocou o Partido Comunista Brasileiro (PCB) na ilegalidade. Com essa medida, todos os políticos do “partidão” detentores de mandatos, legitimamente conferidos nas urnas, tiveram, sumariamente, cassados os seus direitos políticos.
Aparício Torelly, autointitulado o “Barão de Itararé”, dono de uma bem humorada e ácida crítica ao regime vigente, que exercia, com muita irreverência e tirocínio, o cargo de vereador, eleito pelo PCB, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, viu o seu mandato abruptamente cortado.
As suas intervenções no legislativo municipal carioca trouxeram uma notável audiência, a tal ponto que o dial dos rádios, em bairros populares e nas favelas, ficava mais sintonizado na transmissão radiofônica das sessões da Câmara, fazendo uma dura e vitoriosa concorrência diante das radionovelas da época.
Esperava-se dele um vigoroso e retumbante protesto contra a medida antidemocrática que trucidara e amputara o seu mandato parlamentar. Ao subir à tribuna, o “Barão” vociferou:
– Deixo a vida pública e vou à privada!
Ditas essas poucas palavras, desceu do púlpito e foi ao sanitário descarregar suas necessidades fisiológicas na privada e não mais voltou à vida pública.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Sobramista e membro da ACM
* Publicado In: SOBRAMES – CEARÁ. Passeata literária. Fortaleza: Sobrames-CE/Expressão, 2011. 232p. p.177-8.

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