Paulo Elpídio de Menezes Neto (*)
Das obras realizadas pelo homem, poucas rivalizam com o empreendimento de ler, escrever e contar. Símbolos e códigos foram sendo engenhosamente construídos ao longo de milênios, na escala e na medida de uma ambiciosa aventura, humana em sua essência. Esse desdobramento de ativos progressivos não foi tão rápido nem tão simples. Os primeiros textos conhecidos consistiam, como ensinam muitos dos mais aplicados arqueólogos da linguagem, em registros prosaicos de uma contabilidade rudimentar de bens materiais; outros mencionavam os astros em sua ronda infindável pelo firmamento, os elementos da natureza e algumas tênues manifestações de medo que despertavam a necessidade de proteção em face do desconhecido e as primeiras expressões da fé religiosa.
Desse tripé, o ato de ler e o escrever, o exercício da palavra sob forma escrita, está na origem de todos os saberes e habilidades, por serem eles, exatamente, matriz, guia, vetor ou condutor do pensamento e das ideias. Pois sabe-se que adultos e crianças leem menos hoje. As novas mídias, a Internet, em particular, veículo poderoso de acesso à informação na sociedade moderna, abriram alternativas e amplas possibilidades de relacionamento social, porém não trouxeram motivação suficiente para que os jovens fizessem da leitura um passatempo útil e inteligente.
As exceções existem para comprovar essa tendência desalentadora. Fonte de pesquisas valiosa, não obstante suas falhas e imprecisões, a Internet atrai, indistintamente, entretanto, jovens e adultos, sobretudo os de parcas inclinações literárias, pela sedução de ilimitadas possibilidades de palração “on line”, instantânea, e pelo apelo de jogos, numa forma preocupante de banalização da palavra, da forma vocabular e dos seus significados.
Ainda assim, como observa Claudio Moura Castro, a Internet trouxe de volta a palavra escrita, antes sequestrada pela TV. Onde buscar motivação suficiente para os jovens fazerem da leitura uma prática prazerosa e dela extrairem respostas para as suas indagações? A quem atribuir responsabilidade no processo de sedução pela leitura e a escrita?
A escola fundamental e o ensino médio não despertaram para essa função iniciadora. As salas de leitura não cumprem adequadamente sua vocação. A família descura dessa obrigação por desídia ou por simples despreparo intelectual dos pais. Ademais, faltam textos motivadores em meio ao que se produz como literatura infantil. De um modo geral, os livros infantis pecam pela pobreza de imaginação; os textos infantilizam imagens e conteúdos e trazem histórias tolas, como se fossem destinados a criaturas destituídas de inteligência e criatividade. O interesse pela leitura nasce com o exemplo vivo de pais lendo e da convivência doméstica com os livros. De que modo a escola poderia suprir a ausência motivadora da família? Por felicidade, a leitura, os significados e as ideias que as palavras podem expressar não caíram em obsolescência, no julgamento dos arautos da modernidade. Até quando?
(*) Cientista político e membro da Academia Bras. de Educação
Fonte: O Povo, 11/01/12. Opinião, p.6.
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