Por Ricardo Alcântara (*)
Não há sinergia entre o governador e a prefeita. Até aí, problema deles. Pior é não haver sinergia entre as duas gestões – estado e capital. As máquinas não dialogam. Atuam quase sem convergência. Assim, perdemos todos.
Mas são mantidos assim os casamentos entre os que têm muito a perder: mesmo se a afinidade evapora, fica um patrimônio a preservar. A metáfora procede, quando se trata da aliança de Cid Gomes e Luizianne Lins.
Pode-se duvidar, e muitos o fazem agora, da vocação gestora da prefeita e mesmo da imperícia com que escolhe as palavras e os momentos de dizê-las, mas há por aqui poucos talentos políticos com intuição de igual calibre.
A pergunta é: para onde olha ela, quando opta, sob o argumento personalista da lealdade, por um candidato à sua sucessão sem precedente eleitoral, mesmo com o agravante de sua ainda insuficiente popularidade?
A movimentação mais recente dos bastidores indica que a prefeita mira na dimensão dos danos que sofreria seu parceiro eventual, o governador Cid Gomes, caso recusasse apoio ao candidato indicado por ela.
Luizianne empurra o parceiro para o canto do ringue. Responsabilidades de Estado de quem administra um condomínio pobre podem levar o governador a recolher seus ressentimentos e manter o casório de fachada.
A prefeita conta com o carisma de Lula, o apoio do governo federal, o controle da máquina na capital, tem maioria na Câmara, é presidente do partido e controla o diretório municipal. Tem, enfim, os cordões nos dedos.
Como a precedência para indicar o candidato da aliança é do PT, uma recusa do governador em apoiar o nome apontado ali pode significar o acolhimento de dois problemas que ele por certo não desejaria enfrentar.
O primeiro está em Brasília, quando veria turvada a até agora boa relação institucional com o Palácio do Planalto, onde contra ele e os seus já conspira um influente companheiro de partido, o presidenciável Eduardo Campos.
Outro problema adquirido e não menos relevante – talvez ainda mais relevante – seria jogar o PT no leito turbulento da oposição, águas onde aquele partido navega com grande capacidade de produzir estragos.
Retrospectivamente, vocês imaginem aí as enxaquecas do governador se tivesse enfrentado aqueles episódios todos – jatinho da sogra, escândalo dos banheiros, greve da polícia – com o PT livre, leve e solto. Nem pensar.
Talvez seja esse o cálculo da prefeita quando tenciona ao máximo a capacidade de tolerância de aliados que, afinal, miram mesmo, como objetivo prioritário, é nas eleições seguintes para o governo do estado.
O silêncio nada inocente dos desafetos dela no governo é sintomático de um possível recuo. Mas, mesmo que consiga curvá-los, lembre-se a prefeita de um pequeno detalhe: precisa combinar tudo bem direitinho com o eleitor.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.
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