terça-feira, 17 de janeiro de 2012

ROSENO: a elegância radical

Por Ricardo Alcântara (*)
Enquanto o PT se debate para definir seu candidato à prefeitura de Fortaleza e outros partidos sequer definiram se candidatos terão, há, também, pretendentes que ainda não convenceram seus partidos a lançá-los.
Mas uma proposta eleitoral já circula por aí com nome próprio, adiantado acerto partidário e um posicionamento político já definido: Renato Roseno será candidato de oposição pela frente de esquerda – Psol, PCB e PSTU.
Fosse outro o sistema eleitoral brasileiro e Renato Roseno estaria representando o Ceará na Câmara Federal. Votos individuais, ele teve, mas sua coligação partidária não alcançou o coeficiente necessário.
É um perfil singular: ainda que sejam ousados seus ideais, é pessoa de fala mansa e não faz concessões à narrativa carbonária, tradição de sua tribo, o que lhe rende frequentes críticas dos eleitores e aliados mais exaltados.
A crítica se amplifica quando o objeto de sua contestação é a gestão de Luizianne Lins. Muitos se ressentem de que Roseno “alivia” quando vai por aí a prosa. Há quem alegue até motivações de natureza pessoal.
Bobagem. Mas já era assim na campanha passada, quando foi candidato contra a ex-companheira. As reservas ressoam outra vez agora, quando ele cobrou em entrevista a rádio pouco mais que “ousadia” à prefeita.
As críticas de Roseno como opositor alcançam, em termos comparativos, baixos decibéis, se tomado como referência o estado de espírito belicoso mobilizado pelos opositores do campo liberal. Mas são consistentes.
Quem acompanhou a entrevista (Debates do Povo), contudo, ouviu uma argumentação equilibrada, sistêmica. Não se esquivou de seu papel de opositor, mas tão pouco apelou para o recurso fácil dos ataques pontuais.
Sua forma elegante discrepa, contudo, do furor indignado daqueles que, egressos das lutas mais ásperas do movimento popular, esperam que ele, mesmo sem que perca a ternura jamais, endureça mais o discurso.
Inácio Arruda e Heitor Férrer podem brincar de “amigos de infância” da prefeita de olho em um arranjo no segundo turno, mas, para ele, confundir-se como linha auxiliar do candidato da prefeita não seria o melhor destino.
De todo modo, desde 1985, quando o país voltou a eleger seus prefeitos de capital, nunca foi vitorioso alguém que, como ele, tenha entrado na disputa com menos de dois minutos de programa eleitoral na televisão.
Bem votado em Fortaleza, Renato Roseno poderá ser mais uma vez derrotado pelas condições desiguais da disputa, mas deverá causar estragos na votação de outros nomes identificados com o chamado “campo popular”.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.

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