Por Ricardo Alcântara (*)
Em política, fala-se às vezes de um modo que a opinião pública entenda o contrário do que se diz. O que não pode ser pronunciado deve ser negado com veemência suficiente para que a todos pareça versão inverossímil.
Foi o que fez o governador Cid Gomes quando, falando à imprensa sobre a sucessão municipal em Fortaleza, conseguiu, numa mesma frase, dar uma provavelmente sincera declaração e emplacar uma mentira daquelas.
De início, disse ele que defende junto ao seu grupo político a continuidade da aliança política e deseja apoiar um candidato do PT em Fortaleza. A posição atende aos seus interesses. Logo, não há porque duvidar de sua sinceridade.
Mas, dito isso, logo a seguir adiantou: “não tenho plano B”. Quis dizer que não teria ele a menor ideia do que faria, caso a aliança, por algum motivo, se tornasse inviável. O governador não espera que acreditemos nisso.
Certo com dois e dois são quatro é que Cid Ferreira Gomes não apenas tem um plano B, como deve ter, também, um plano C. A única dúvida aí é saber em que ordem de primazia ele colocaria as alternativas disponíveis.
São elas: a candidatura própria do PSB (os filiados se dividem entre a simpatia de Ferrúcio Feitosa e os neurônios do Roberto Cláudio) e o apoio ao senador Inácio Arruda, aliado seu que lidera as pesquisas de opinião.
Sentado ao pé de um poste, Cid não deve estar. Em seu lugar, ninguém esperaria por um parceiro sagaz como Luizianne Lins, que o tem colocado contra a parede ao oferecer o direito de escolher entre duas contrariedades.
Uma, seria Elmano de Freitas, sem expressão eleitoral e cópia autenticada da gestão que não lhe agrada. A outra, José Pimentel, ainda pior: seria um desafeto na prefeitura e um inimigo no senado, o suplente Sérgio Novais.
O governador tem se empenhado muito em garantir eficácia aos seus esforços administrativos e, em nome disso, engoliria muitos sapos para se manter alinhado ao governo Dilma. Muitos, mas não todos.
Ainda que assine rendição a uma alternativa que lhe desagrade – e se não tiver, principalmente, crença na possibilidade de vitória – Cid não deixará de construir alguma alternativa com chances de êxito. Seria um tolo. Não é.
Logo, mesmo cedendo a contragosto o apoio do seu partido ao candidato da prefeita, restará a opção de facilitar a Inácio Arruda condições de disputa e, assim, entrar no jogo com mais de um parceiro à mesa. Por que não?
Se o PT joga as fichas de 2014 ainda no tabuleiro de 2012, Cid, ao contrário, joga com as fichas de 2012 já no tabuleiro de 2014 e ambos sabem: manter a aliança na sucessão estadual será uma operação ainda mais complexa.
Ninguém ali está confortável, mas sabem que o desconforto está precificado: é o custo da hegemonia com que controlam o Ceará. A aliança fosse o melhor dos mundos, teriam chegado ao céu sem precisar morrer.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.
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