segunda-feira, 5 de março de 2012

CIRURGIA E OPERAÇÃO

Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
Cirurgia provém do latim “chirurgia”, oriunda do grego “Kheirourgia” de kheir” = mão, e “érgon” = trabalho. É portanto um trabalho manual, o tratamento de doenças, traumatismos, ou deformidades, por processos manuais ou instrumentais, pelo cirurgião.
Tal tratamento denomina-se operação e faz parte da Cirurgia, ramo da Medicina (com C e M maiúsculos). Cirurgião é quem opera; o paciente deixa-se operar. Assim, soa mal dizer: o advogado operou a vesícula, exceto quando este é também médico-cirurgião, tendo operado alguém. Aliás, Michel Foucault (1926-1984), observou que a linguagem não mais se assemelha às coisas por elas nominadas.
Quando nos chega um texto escrito, recebemos uma carta (ofício, memorando, etc) e não uma datilografia. Autores médicos norte americanos, jejunos (ignorantes) em etimologia greco-latina cunharam um barbarismo relativo à palavra “surgery”: “to surgerize”, ou “cirurgiar”, por operar.
Na Idade Média, os cirurgiões treinavam nas guerras, onde o campo de batalha era uma escola de cirurgia, pelos ferimentos diferentes que produzia. Desses cirurgiões surgiram os primeiros relatos sobre a gangrena, o tétano e as infecções por pólvora.
Até aparecerem os hospitais as operações eram feitas no teatro dos conflitos, ou - na paz-em mesas de cozinhas. Vale recordar, como repetido aqui (11/3/2009), terem sido de Homero (cerca 8.000 a.C)(“Ilíada”, “Odisseia”) as primeiras descrições de feridas cirúrgicas, atestando a ligação original entre Medicina e Literatura.
Datam dessa época as operações mais remotas, remoções de lascas (estilhaços, esquírolas), as incisões de furúnculos, ou de bolhas nas queimaduras.
O exemplo mais antigo de operação cirúrgica é a trepanação (perfuração de ossos cranianos), do período meso-lítico (meio de Idade da Pedra), há 10.000 ou 5.000 anos a.C., entre os peruanos pré-incaicos. Era executada para exorcizar-lhes, expulsando demônios do corpo.
A história também relata uma primazia para a circuncisão (postectomia): retirada da prega que recobre a extremidade do pênis, por razões higiênicas ou religiosas.Foi a primeira operação dos judeus, em Abraão (cerca 1900 a. C. ) aos 90 anos de idade.Realmente, e já comentado neste espaço (12/11/2008), tornou-se realidade a ficção cientifica de Julio Verne, H.G Wells, de Aldous Huxley e de (José Bento) Monteiro Lobato, este, em “O Presidente Negro” (1920) já prevendo a Internet, a ser criada quase cinquenta anos depois.
Atualmente, comuns são as revascularizações cardíacas (pontes), as videolaparoscopias (operações abdominais incruentas) (1985), as operações feitas pelos robôs, e desde 2006 aquelas endoscópicas, através de orifícios naturais, quando nem o cirurgião deixa rastro.
É mesmo o admirável mundo novo!
(*) Médico e presidente da Academia Cearense de Letras
Fonte: O Povo, Opinião, de 29/2/2012.

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