Paulo Elpídio de Menezes Neto (*)
“Colocar minhoca no anzol, a gente aprende rápido”, Marcelo Crivella, novo ministro da Pesca do governo Dilma Rousseff
O governo desta sereníssima República brasiliense tem o dom de comover a nação, a cada problema que enfrenta, e sempre que se decide por resolvê-lo, em nome da governabilidade. Assistimos, na semana passada, dominados por forte emoção à partida de mais um ministro do seio de um ministério transeunte.
Ocupava-se o eminente homem público da nossa pesca litorânea e, quiçá, da que se pratica nos rios, lagos, açudes e canais interiores. Substituíra o ministro dispensado, em sua faina patriótica de promover a pesca, dois outros dedicados servidores da República, um sociólogo e uma física, senadora, ambos de escassa produção acadêmica e pouca familiaridade com a ciência e a arte da pesca. Nem por isso deixaram, como bons gestores públicos, de formular políticas ambiciosas sobre a valorização do pescado em todo o pais e de como levá-lo à mesa do brasileiro.
Fatos e circunstâncias imprevisíveis demonstraram aos estrategistas oficiais, entretanto, que a ação do governo carecia de energia e força para enfrentar o desafio da fauna do mar, dos nossos rios e lagos. Até alguém, certamente um ministro mais culto, dentre tantos, lembrar, em reunião ministerial, que Pedro fora pescador e, antes de tornar-se mártir e o primeiro papa da Igreja, vivera do arrimo que lhe ofereciam as águas santas do Jordão, dele tirando o sustento de sua grei. E que Jesus, premido pelas necessidades do seu povo, operara o milagre da multiplicação dos peixes. Pois assim se haveria de fazer.
Ao longo dos últimos meses, assistimos à partida de muitos ministros de Estado. A cada demissão, repetem-se as mesmas cenas comoventes nas despedidas anunciadas, os aplausos de exaltação à obra dos demitidos, emoções comedidas algumas, outras, por vezes, incontroladas, arrancando prantos e soluços de autoridades ilustres.
A nossa presidente explicou, com invejável senso didático, em um desses atos de profunda comoção política, nas despedidas de um pranteado ministro e na chegada de outro, que certas demissões e nomeações são “peças importantes na coalizão de que o governo necessita para governar”.
Alcançamos, assim, por obra e graça do empenho de nossos estadistas e homens públicos, o refinamento de um regime político que, por ser presidencialista, não refugou, entretanto, soluções parlamentaristas estratégicas, convenientes e oportunas. A pluralidade partidária e as formas de apascentá-la (afinal, temos mais de 28 partidos registrados) são o segredo da nossa governabilidade.
Que não faltem ao pastor-ministro, pescador iniciante, em sua nova ação missionária, a boa predicação deitada em sua posse, os bons presságios evocados por quem o nomeou, os peixes e as almas recalcitrantes dos pecadores e os eleitores carecidos de fé. E, naturalmente, minhocas e anzóis.
(*) Cientista político e membro da Academia Brasileira de Educação
Fonte: O Povo, 7/03/12. Opinião, p.6.
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