terça-feira, 3 de abril de 2012

Candidatos, sim. Candidaturas, ainda não.

Por Ricardo Alcântara (*)
Não vou encher seu saco com a novelinha chata dos arranca-rabos eleitorais entre aliados do governador e da prefeita pela indicação de candidatos. Ali, tem faltado compostura tanto a quem bate quanto a quem apanha. Fui.
Enquanto eles se cospem e se beijam, sobra um espaço propício ao debate dos desafios da urbanidade que as demais forças não estão demonstrando interesse em ocupar, mesmo tendo já alguns candidatos declarados.
O momento é oportuno para refletir sobre temas de interesse comum como contraponto à arena de egos em que aliados do governador e da prefeita se devoram alheios àquilo que ao cidadão mais importa: viver melhor.
Não basta lançar candidatos com antecedência se, no day after, a visibilidade dos primeiros momentos se dissolve numa incapacidade de produzir fatos que mobilizem a atenção da opinião pública.
Definir um candidato não é o mais difícil. Desafio é massificar a informação e desenhar na cabeça do eleitor o posicionamento da candidatura, isto é, a que ela se presta como ato político. Nenhum deles tem feito o bastante.
Fato atenuante, a legislação eleitoral brasileira não prevê o instituto de pré-campanhas. Amarrados a normas rígidas – rigidez que reflete a inclinação cultural ao excesso – poucos recursos restam aos candidatos no período.
Contudo, alguns não se definem porque não lhes interessa fazê-lo agora. No exercício de mandatos, Inácio Arruda e Heitor Férrer bem poderiam aparelhar a tribuna parlamentar pra visibilizar o perfil de sua postulação.
Não o fazem porque, de fato, são candidatos sem suficiente autonomia, ambos dependentes, em peso e medida diferenciados, de decisões que serão tomadas por outras forças – o governador do estado, principalmente.
São candidatos já (nomes, pessoas), mas ainda não são candidaturas (posicionamento, propostas). A antecedência com que se lançaram é ainda inversamente proporcional à clareza de suas definições. Há dubiedades.
A antecipação de seus nomes se deu menos como tomada de posição diante de um quadro e mais como movimento tático de ocupação de espaços. Os produtos foram à venda sem esclarecer a que serviço se prestam.
Sintomático é que, mesmo com pouco tempo de televisão para propaganda, seus partidos não se apressam em conquistar o apoio de outras forças. Há nisso, além das dificuldades previsíveis, também um bocado de esperteza.
Sim, porque agregar aliados seria definir um perfil político – a candidatura – e perfil definitivo é tudo que os dois mais evitam no momento. Os produtos foram à venda sem os manuais de uso e os termos de garantia.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.

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