segunda-feira, 14 de maio de 2012

CID GOMES: nem temido, nem amado

Por Ricardo Alcântara (*)
Não delete! Prometo não tocar naquele assunto desagradável, a novelinha mexicana sobre a escolha do candidato petista à prefeitura da capital. Aquilo lá já virou briga de comadres. Você e eu temos mais o que fazer.
Por força de minhas obrigações profissionais, tenho acesso frequente a pesquisas de opinião realizadas em todas as regiões do estado e elas revelam um quadro que muitos na imprensa – o porquê, não sei – têm evitado.
Os índices não confirmam a avaliação de alguns intérpretes, quando conferem ao peso da participação do governador Cid Gomes força quase decisiva mesmo em Fortaleza – e quem dirá onde o vento faz a curva.
Os números indicam um governo de estado enfraquecido. As consultas não apontam uma percepção expressiva de nenhum aspecto em especial que demarque um diferencial em sua atuação – e lá se foram mais de cinco anos.
Em contrapartida, são acentuadas as reações negativas a alguns setores, sobretudo em questões de segurança, com aguda sensação de perda de controle sobre problemas relacionados ao uso de drogas.
Não é nada que se compare ainda à avalanche de rejeição que desaba sobre a cabeça da prefeita da capital, Luizianne Lins, que já alcança índices próximos de 50 por cento a apenas cinco meses do seu desejado plebiscito.
O termo que melhor definiria o que se lê nos índices levantados sobre o governo do estado é “apatia” – a massa frouxa de uma maioria imobilizada por um misto de indiferença e desinformação. A imagem é pálida.
Não significa dizer – nunca foi assim e não será diferente agora – que os recursos acionados por um governo de estado possam ser desprezados em disputas eleitorais travadas em territórios municipais pobres e dependentes.
Mas o apoio político do governador, com base em seu prestígio popular e potencial de transferência de votos, ficará distante, por exemplo, do caráter imperioso que o Ceará conheceu com Tasso Jereissati e Ciro Gomes.
Como Lúcio Alcântara, Cid Gomes não impressiona. Sua gestão é, inclusive, pior avaliada hoje do que a de seu antecessor no mesmo período, mas leva sobre ele a grande vantagem de deter uma frente partidária muito ampla.
A vantagem decorre da fragilidade dos poucos canais políticos abertos à drenagem dos sentimentos de insatisfação que aquela hegemonia, calcada mais em favores do que motivações, represa, mas não elimina.
Ao contrário de Lula e Dilma, Cid não faz a diferença. Não significa dizer que não faça diferença nenhuma o apoio da máquina que comanda, mas não será decisiva onde fatores locais mais acentuados se manifestarem.
Para o amplo apoio político que recebe e o quadro financeiro positivo da gestão, somados a uma boa tradição de governança herdada, o governador deveria estar um passo à frente na afirmação de sua vontade. Não está.
Faltam a ele desenvoltura, ao seu governo diferenciais substantivos e à sua comunicação atributos elementares de competência. O fato é que se não é muito o que se tem dito contra ele, a favor é igualmente escasso.
Para efeito das eleições municipais, o apoio do governador ainda será quase sempre um fator positivo, mas decisivo apenas onde houver déficits locais de liderança. Cid Gomes não chega a ser temido e está longe de ser amado.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.

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