quarta-feira, 30 de maio de 2012

O BRASIL ANEDÓTICO XLI

O CASTIGO DE JOÃO HOMEM
Moreira de Azevedo - "Mosaico Brasileiro", pág. 26.
Assistia o vice-rei Conde da Cunha ao desembarque de materiais para a construção da casa de armas no morro da Conceição, quando avistou em uma janela, ao alto, um homem envolvido em vasto camisão, tendo na cabeça um grande barrete de cassa branca com babados.
- Quem é aquele sujeito? - perguntou o Vice-rei a um indivíduo que estava a seu lado.
- É o capitão João Homem Pereira.
- Vá buscá-lo e traga-me assim como está vestido.
Compareceu o capitão João Homem.
- Está vossa mercê na sua janela a divertir-se vendo o vice-rei trabalhar, não é assim? - gritou-lhe o Conde.
- Senhor...
- Pois carregue tijolo, que eu também estou servindo a el-rei nosso senhor.
E o capitão João Homem, cujo nome é guardado por uma das ladeiras do morro da Conceição, teve de entrar mesmo em serviço, carregando tijolos até tarde do dia, vestindo camisão e barrete de dormir.
PAIXÂO DAS MINÚCIAS
João Luso - "Elogios", pág.42.
Raimundo Correia nutria no meio dos seus altos cuidados de juiz e homem de letras, a ingênua paixão das minúcias, Às vezes, quase meio século após o acontecimento, subia ele as escadas do Jornal do Comércio, e pedia a um dos redatores conhecidos:
- Manda-me ver, por favor, a coleção do Jornal de 1874.
E, sentando-se a uma cadeira, à espera:
- Quero ver como foi que vocês noticiaram a morte de Castro Alves...
PEDRO II E A INSTRUÇÃO
Oliveira Lima - "O Jornal", de 5 de dezembro 1925
Terminada a campanha contra o Paraguai, que custara ao Imperador, em cinco anos de cuidados, vinte anos de vida, abriram os seus admiradores uma subscrição nacional, para erigir-lhe uma estátua. Ao ter notícia da idéia, S. M. dirigiu uma carta aos promotores do movimento, pedindo-lhes que aplicassem o produto da subscrição na instalação de escolas para o povo. E dizia, ao primeiro signatário:
- "O senhor e seus predecessores sabem como sempre tenho falado no sentido de cuidarmos seriamente da educação pública, e nada me agradaria tanto como ver a nova era de paz, firmada sobre o conceito de dignidade dos brasileiros, começar com um grande ato de iniciativa deles a bem da educação pública. Agradecendo a idéia que tiveram da estátua, estou certo que não serei forçado a recusá-la".
A EXALTAÇÃO DOS HUMILDES
Serzedelo Correia - "Páginas do Passado", pág. 21.
Era Serzedelo Correia ministro de Floriano, quando, um dia, enveredando pela casa em que residia o presidente, o encontrou à mesa do jantar, tendo a seu lado, na cabeceira, um soldado pretinho, carapinha branca.
- Meu velho amigo da campanha do Paraguai - apresentou Floriano.
E para o ministro:
- Foi um bravo. Saúde-o!
Serzedelo apertou-lhe a mão.
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).

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