Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
Quando Cristóvão Colombo fez-se ao mar na sua primeira viagem (1492), levava um sub-oficial que falava hebreu. Acreditava-se ser essa - a língua das Escrituras - a fala original de toda a humanidade. Como tal vigorou até 1808, quando a primazia passou para o sânscrito, da Índia. Ainda no século XIX, o lexicógrafo americano Noah Webster (1758-1843) – autor do grande “Dicionário da língua inglesa” (1841) – declarou o aramaico, dos caldeus, da Mesopotâmia, como o protótipo das línguas modernas.
A diversidade das línguas estaria explicada no capitulo 11° do Gênesis, quando havia uma única no mundo. O criador, vingando-se dos que tentavam construir uma torre da altura do céu, misturou, confundiu todas as palavras. Tal é a história daquela “ziggurat”, a famosa torre de Babel, e do conseguinte caldeamento linguístico então desencadeado.
Neste sentido, temos que a linguagem não é uma abstração, mera celebração de estudiosos cultos, apenas, mas oriunda das necessidades laborativas, funcionais, afetivas, dos gostos e preferências, enfim, de cada um; ela tem suas bases claramente fincadas ao chão, à uma realidade individual ou coletiva.
Para a maioria do mundo ocidental o inglês é o linguajar do comércio. Dizem ser o francês aquele do amor, da diplomacia, desde Luís XIV, da cultura, da gastronomia; o alemão o idioma da ciência; o italiano, das artes, e o latim e o grego os falares da lógica, da exatidão, assim explicando os termos médicos.
O latim, supostamente morto, foi o primeiro discurso da civilização, seguido pelo francês. Lembrando-me ter sido o Cristianismo o propulsor da latinização, nunca entendi a desobrigação do latim na liturgia católica!
Aos poucos, a francofonia perdeu seu “status” e - mercê da proeminência cultural anglo-americana, amparada pelo poderio econômico - o inglês se expandiu no planeta, sendo hoje falado por uma entre quatro pessoas no mundo. O inglês surgiu como língua franca, isto é, de troca, semelhanças vernáculas, mistura de termos úteis para indivíduos diferentes.
Tanto foi observado entre os comerciantes mediterrâneos do século IX, franceses, gregos, italianos, árabes. Aliás, a tecnologia digital é uma língua franca (binária) no atual espaço cibernético!
Na nossa sociedade logomaníaca, tornaram-se reconhecidas, desde 2000, as “palavras sem fronteiras”, arroladas em livro de 867 páginas, pelo embaixador e historiador maranhense Sergio Correia da Costa (Editora Record). São aquelas que se incorporam a outras, universalizando-se, principalmente o francês, o inglês, e o latim.
Em artigo próximo voltaremos a este tema, abordando principalmente o “portuglês”, este eivado de palavras norte-americanas sequestradas por brasileiros e as impropriedades do seu uso entre nós. Começaremos pelo armarinho “Meu Close”, na rua João Carvalho , aqui em Fortaleza.
(*) Médico e presidente da Academia Cearense de Letras
Fonte: O Povo, Opinião, de 25/4/2012.
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