Um dos maiores historiadores do Brasil é, sem qualquer dúvida, um cearense, nascido em Maranguape, reconhecido, mundo à fora, por sua visão crítica e pelo rigor que empreendia na investigação dos fatos históricos.
Seu nome: João Capistrano Honório de Abreu. Tido como um dos principais historiadores do Brasil, ofereceu ainda uma contribuição valiosa nos campos da etnografia e da linguística. Seu grande feito: estudou, com afinco, a história colonial brasileira, elaborando uma teoria da literatura nacional, tendo por base os conceitos de clima, terra e raça, que reproduzia os clichês típicos do colonialismo europeu acerca dos trópicos, invertendo, todavia, o mito pré-romântico do “bom selvagem”. Foi o primeiro grande historiador a dar visibilidade às classes populares na história sócio-econômica do Brasil.
Neste último ano, viajou Capistrano de Abreu para o Rio de Janeiro, atendendo o convite de José de Alencar, e aí se fixou, tornando-se empregado da famosa Livraria Garnier, como caixeiro, passando a colaborar no periódico Gazeta de Notícias. Em 1879, foi nomeado, por concurso, oficial da Biblioteca Nacional, trabalhando nessa função até 1883.
Sua aptidão para o ensino era evidente, tanto que lecionou Corografia e História do Brasil no Colégio Pedro II, nomeado, em 1883, por concurso em que apresentou tese sobre O Descobrimento do Brasil e o seu Desenvolvimento no Século XVI, considerada, no contexto da historiografia, como uma das mais importantes obras da História do Brasil. Devidamente aprovado, exerceu esse cargo até 1899, quando Epitácio Pessoa, então Ministro da Justiça, determinou anexar o ensino de História do Brasil ao de História Universal, e, em sinal de protesto, o bravo cearense recusou-se a lecionar a nova disciplina, preferindo manter-se em disponibilidade, com redução de 40% do seu salário, para se dedicar à pesquisa.
Eleito para a Academia Brasileira de Letras, negou-se a tomar posse, desiludido com a traição cometida por Rui Barbosa, um dos artífices da sujeição da sua cadeira à de História Universal.
Eleito, em 1887, como membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, única honraria que aceitou, Capistrano de Abreu tornou-se reconhecido como o patrono da historiografia brasileira, sendo responsável pela renovação dos métodos de investigação e interpretação historiográfica, no Brasil.
Capistrano de Abreu, contrariando o vezo habitual, foi grande, dentro e fora da sua terra. Suas principais obras foram: Estudo sobre Raimundo da Rocha Lima (1878), José de Alencar (1878), O Descobrimento do Brasil (1883), A Língua dos Bacaeris (1897), Capítulos de História Colonial 1500-1800 (1907), Dois Documentos sobre Caxinauás (1911-1912), Os Caminhos Antigos e o Povoamento do Brasil (1930), Ensaios e Estudos (1931-33) e Correspondência (1954); os dois últimos foram publicados postumamente.
Sua morte ocorreu no Rio de Janeiro, em 13 de agosto de 1927, dois meses antes de completar 74 anos.
Capistrano de Abreu foi, na verdade, um historiador além do seu tempo. O trato com as fontes e a posterior escrita dos seus textos têm muito de singularidade para aquele momento, dada à consistência em: apontar contradições internas dos relatos; verificar a autenticidade das fontes utilizadas pelos estudiosos e historiadores; primar pelas referências precisas das fontes sobre o passado; e avaliar se as considerações sobre determinado evento histórico eram verdadeiras ou não.
De tudo o que aqui se disse sobre o filho ilustre de Maranguape, nas cercanias de Fortaleza, capital do estado do Ceará, algumas ilações podem ser feitas quanto à sua genialidade, expressa no pendor para registrar os fatos históricos, estribados no pensamento crítico, para emissão de juízo de valor.
Capistrano de Abreu foi grande no seu tempo e continua grandioso na posteridade, mercê de um talento nato para tornar reais as palavras de Heródoto: Historia temporum lux. Com efeito, toda a existência terrena de Capistrano de Abreu foi marcada por acontecimentos que só fizeram enriquecer sua brilhante trajetória de vida.
Esse é o perfil do homem inscrito entre os patronos da Academia de Ciências, Letras e Artes de Columinjuba (ACLA), cuja condição de patrono emérito confere enorme responsabilidade a quem nela tomar assento, neste silogeu, criado sob a inspiração do intelectual e promotor cultural Cláudio Pereira, a cadeira voadora, de saudosa memória, e que hoje está sob a direção Dr. Walter de Borba e Veloso, pelo meu dileto amigo e ex-colega do Júlia Jorge.
No centro de todas as atenções, ontem como agora, Capistrano de Abreu foi e continua sendo visto como uma luz, projetada desta verde aprazível Columinjuba para o resto do Brasil e para o mundo.
Prof. Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Da Academia Cearense de Medicina
* Publicado In. ACLA em ação, 11(72): 5, 2012. (Informativo da Academia de Ciências, Letras e Artes de Columinjuba).
Parabéns, Marcelo, pelo resgate histörico de Capistrano de Abreu
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