terça-feira, 19 de junho de 2012

COMO ESCOLHER BEM UM VICE

Por Ricardo Alcântara (*)
Há três fases de definição eleitoral: a primeira é quando se define o candidato. A segunda, que às vezes a precede, é a composição das alianças. A última, decorrente desta, é a indicação do nome que irá compor a chapa como candidato a vice, o substituto eventual juridicamente assegurado.
Atualmente, se falamos em Fortaleza, com três semanas para a data final de definição, ainda não foi concluída a primeira fase. Pelo menos mais um nome de peso pode ser lançado: o candidato do governador. Outro ainda poderá recuar: a candidatura de Moroni ainda não foi confirmada pelo próprio candidato.
A muito relevante definição das alianças será, por força do cronograma, servida já com os nomes dos respectivos vices anexados. A indicação de um vice é irrelevante? Apenas quando é mal construída, atendendo a conveniências personalistas ou relegada, por falta de opções, a um “vai tu mesmo”.
Sobre isso, é preciso esclarecer que vice, ainda que muito popular, não produz votação cumulativa. Estudos demonstram que mesmo as maiores contribuições poucas vezes agregaram mais do que 5% da votação original do candidato titular – diferente do futebol, onde Pelé e Garrincha nunca perderam uma só partida jogando juntos.
Mais do que votos, um vice oferece a ampliação simbólica do perfil de uma candidatura. Não há mais exemplar ilustração do que a presença do empresário self made man José de Alencar na chapa que levou a versão “paz e amor” do PT a superar sua marca histórica de rejeição, colocando o Lula lá.
Assim como um líder operário buscou apoio em um empresário para dar à sua campanha as garantias que parte do eleitorado precisava – as regras do mercado seriam respeitadas – também um capitão da indústria poderia precisar da companhia de um líder popular para avalizar compromissos sociais.
Então, um bom vice oferece isto: um contraste. Um rosto experiente para avalizar um candidato muito jovem ou um jovem que dinamize um candidato de idade avançada. Uma mulher que suavize aspectos agressivos de um xerifão ou, ao contrário, um cão de guarda ao lado de uma face meiga de mãe.
Um vice do qual nenhuma parcela expressiva da sociedade possa dizer coisa alguma é um zero à esquerda, por mais atributos que a mãezinha dele jure que seu filho tem. Pior – já que aquele seria apenas uma nulidade – é o vice que não agrega em contraste, só provoca contradições.
É quando a presença dele na chapa é uma negação eloquente de tudo aquilo que o candidato promete. Quem arriscaria discursos sociais reformistas ao lado de um banqueiro? Marina Silva, por exemplo, jamais poderia subir no palanque com um plantador de soja – seria uma alface transgênica.
Igualmente problemático é o vice que derrapa no equívoco de pensar a campanha como oportunidade de ampliar seu próprio eleitorado, rivalizando com o candidato e subtraindo dele preciosos espaços na propaganda de televisão. A menos que seja muito popular, a exigência é um gol contra.
O bom vice se impõe pela força de sua presença como decisão política. O significado de sua participação não é numeral, mas qualitativo. Fosse popularidade sua principal contribuição, seria ele o candidato e não o outro. É naquilo que amplia, subjetiva ou politicamente, que ele é mais decisivo.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.

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