Por Ricardo Alcântara (*)
Concordo com o candidato do PT, Elmano de Freitas, em um ponto (devo concordar em outros, pois o cara é do bem): o slogan publicitário da gestão de Luizianne Lins – Fortaleza bela – é coisa de quem não tem neurônios em número suficiente para escovar os dentes.
O fundamento, elementar: quem se compromete com o máximo, nunca surpreende. Quem promete o céu só consegue tornar ainda mais insuportável o convívio no inferno. Outra. Optou-se por um slogan estetizante para uma cidade com carências básicas muito agudas.
Belas, são cidades em que operários têm carros, mas deixam na garagem porque o transporte coletivo tem conforto e segurança. Onde há calçadas (é o mínimo) onde se possa andar à noite sem medo de assalto. E bem cuidados parques. Menos do que isto, a mensagem é inaderente.
Pouco adianta prometer beleza a quem tem fome: o belo não é relevante para quem não é assistido no básico – isso Marx já sabia e vocês leram. Para quem está doente, beleza é medicação supérflua: um posto de saúde com bom médico na hora certa já seria suficiente.
Logo, secretário, eu entendi. Mas culpar a pretensão do slogan pela menor parte que seja da frustração das pessoas é outra forma de delirar. Um slogan mais modesto não iria melhorar o humor de quem passa todo dia por dentro do mesmo buraco e se pergunta: até quando?
Cedo, um narcisismo juvenil adoeceu essa gestão. No seu início, manteve-se o preço da passagem de ônibus estável e logo se pensou ter criado o melhor dos mundos. A prefeita sequer despachava com os secretários, quem não lembra? Você lembra. Ela também.
Custou-se, por exemplo, a reconhecer exigências essenciais: métodos eficientes de controle e verificação de resultados e critérios técnicos em indicações a funções decisivas para o bom desempenho. Também o hábito de ouvir quem não concorda, mas ama igualmente a cidade.
Garantida a subsistência dos vereadores, presumiu-se que o sentimento coletivo também estaria contido. É como imaginar que basta tampar a panela para conter a pressão da fervura. Incrível: passaram a crer na invulnerabilidade de algo que vocês mesmo haviam demolido!
Daí que o cidadão se vê indiferente até mesmo ao muito que se tem feito – é impossível fazer pouco em sete anos – já que os maiores emblemas de comunicação do governo (Hospital da Mulher e outros Cucas) se fixaram na percepção coletiva como obras inacabáveis.
Particularmente, me frustrou ver falta de imaginação em um governo sob o comando de um grupo político que sempre procurou se situar em contraponto ao convencionalismo das soluções oferecidas pela classe política tradicional. Quase nada de realmente novo foi acrescentado.
Não vou me estender mais, secretário: o check list é extenso. Para concluir, bastaria lembrar que a prefeita levou sete anos para identificar a razão principal da falência múltipla nos órgãos da cidade, recriando o vetorial indispensável de um instituto de planejamento.
Enfim, se a má comunicação pode produzir ainda maiores estragos em um produto já de qualidade duvidosa, não há boa propaganda que resolva os problemas de prestígio de um serviço que não corresponda ao que o usuário espera dele. Logo, trabalhem: é o que resta.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.
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