quinta-feira, 30 de agosto de 2012

ZILDA ARNS


Dra. Zilda Arns

Por Rita Célia Faheina (*)
No último dia 25, ela completaria 78 anos, dos quais, 30 dedicados a uma causa nobre: reduzir a mortalidade infantil no País. A médica Zilda Arns Neumann fundou a Pastoral da Criança em 1982 a pedido do seu irmão, o cardeal arcebispo de São Paulo (atualmente emérito) Paulo Evaristo Arns, e em poucos anos, conseguiu o seu objetivo. E o mais importante é que mobilizou pessoas de todas as regiões brasileiras, formando uma rede forte e duradoura para essa missão.
Estima-se que cerca de 2 milhões de crianças e mais de 80 mil gestantes sejam acompanhadas todos os meses pela entidade em ações básicas de saúde, nutrição, educação e cidadania da Pastoral da Criança. A médica pediatra e sanitarista também estendeu o atendimento às pessoas idosas.
Fundou em 2004, a Pastoral da Pessoa Idosa, que passou a capacitar líderes para ajudar idosos a controlar vacinas, evitar acidentes domésticos e identificar doenças físicas e emocional. Os projetos que fundou ganharam o apoio do Unicef, agência da ONU que dá apoio técnico e financeiro a programas e ações pela sobrevivência, desenvolvimento e proteção de crianças e adolescentes.
Dra. Zilda era uma mulher simples, acolhedora, afetuosa, semeava o amor onde chegava. Tive a oportunidade de entrevistá-la algumas vezes e sempre a encontrava com o mesmo sorriso, com a mesma humildade e capacidade de nos envolver. Uma vez estive com ela numa visita a um dos bairros pobres de Fortaleza:o Pirambu, onde ela foi conhecer um projeto de atendimento às mulheres e crianças.
Quis se inteirar de tudo, conversou com as pessoas da comunidade, com os que as atendiam. Ficou atenta aos relatos sem pressa e com seus olhinhos azuis brilhantes por ver que tudo estava dando certo por lá.
Pelo que via e lia em reportagens, era sempre assim por onde passava. A todos dava atenção, a todos ouvia e tinha o poder de prender grandes plateias quando dava palestras. E foi numa dessas ocasiões, longe de sua terra natal: em Porto Príncipe, capital do Haiti, que terminou sua missão entre nós.
Pelo sucesso do seu trabalho no Brasil, virou modelo para vários países, como Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Timor Leste, Filipinas, Paraguai, Peru, Bolívia, Venezuela, Argentina, Chile, Colômbia, Uruguai, Equador e México. Ela começou a ser convidada a ministrar cursos sobre as ações desenvolvidas. Foi para isso que esteve em 2008 no Uruguai e em 2009, foi para Timor Leste onde são atendidas mais de seis mil crianças.
Mas, em 12 de janeiro de 2010, quando acabara de fazer uma palestra sobre o trabalho da pastoral para um grupo de religiosos na capital do Haiti, Porto Príncipe, morreu em consequência de um terremoto. Ela estava no salão paroquial da Igreja de Sacré Couer e respondia a perguntas feitas pelos religiosos quando o prédio caiu. Todos que estavam lá morreram na hora.
Sua missão estava encerrada depois de 25 anos. Nesse período, expandiu o programa que chegou a alcançar 72% do Brasil, além de 20 países na América Latina, Ásia e África. O trabalho, fundamental para a redução da mortalidade infantil, fez com que Zilda Arns fosse indicada três vezes ao Prêmio Nobel da Paz.
As ações da missionária incansável, hoje são desenvolvidas por milhares de voluntários e, como ela dizia sempre, “é essencial ensinar às mães a cuidar dos filhos. Sempre percebia que elas tinham filhos doentes porque erravam. Quando se inicia algo que vai ao encontro de uma necessidade, a perspectiva de sucesso é maior. E isso não tem fronteiras”.
Suas lições jamais serão esquecidas e as mulheres atendidas pela Pastoral serão gratas à Dra. Zilda Arns para sempre. O trabalho continua forte e tem na direção nacional, um de seus filhos, o médico Nelson Arns Neumann.
Jornalista
Publicado In: O Povo, de 29/08/2012. Jornal do Leitor, p.2.

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