domingo, 30 de setembro de 2012

O BRASIL ANEDÓTICO XLV

O PAI CONTRA O REI
J.M. de Macedo - "Ano Biográfico", vol. III, pág. 27.
Ao partir para Portugal, D. João VI previa, pelos acontecimentos, que o Brasil, depois de ter hospedado a Corte, não se conformaria mais com a condição de colônia. Seria, pois, mais hábil, deixar aqui o filho, Pedro de Alcântara Bourbon, pelo qual eram evidentes as simpatias dos brasileiros.
Na véspera do embarque, chamou o monarca, à parte, o filho, e fez-lhe sentir os seus temores de uma rebelião e, conseqüentemente, da emancipação. E concluiu, paternal:
- Pedro, em tal caso, põe a coroa sobre a tua cabeça, antes que algum aventureiro lance mão dela!
VINGANÇA DE PARCEIRO
Joaquim Nabuco - "Um estadista do Império", tomo II, pág. 6.
Escolhido para a pasta da Justiça, o primeiro ato de Silvestre Pinheiro consistiu em aposentar um desembargador, seu parceiro DC Voltarete, o qual, no jogo, ao ganhar cada partida, exclamava:
- Quem não tem justiça, compra-a; quem a tem, paga-a!
Alarmado com o ato do novo ministro, o magistrado correu à Secretaria, para solicitar a sua reconsideração, por parte do antigo parceiro.
Silvestre Pinheiro respondeu-lhe, porém, grave, com as suas palavras de jogador:
- Quem não tem justiça, compra-a; quem a tem, paga-a!
A PRUDÊNCIA DO SOBERANO
Tobias Barreto - "Pesquisas e depoimentos", pág. 9.
Ao subir ao governo pela segunda vez, Dantas levava como programa íntimo a solução definitiva do problema grave, e momentoso, do elemento servil. Falou nisso ao Imperador. Fez ver a Sua Majestade que a opinião nacional reclamava do governo apenas uma palavra sobre o caso, e medidas, mesmo ligeiras, tendentes a tornar possível a abolição.
- Pois bem, Sr. Dantas, - concordou Pedro II.
E como homem prudente:
- Mas, quando o senhor quiser correr, eu o puxo pela aba da casaca...
AS BANANEIRAS
Recolhido pelo colecionador.
Meses antes de morrer de uma angina que o garroteou em plena rua, mostrava Paulo Barreto, não obstante a sua gordura, uma fisionomia cansada, fatigada, denunciadora de certo esgotamento físico. Ao vê-lo nesse estado, Coelho Neto impressionou-se. E, uma tarde, observava, penalizado, a Humberto de Campos:
- Sabes? O Paulo não vai muito longe, não. Quando ele cair, será de uma vez.
Olhou o outro que era magro, e tornou:
- Nós, meu velho, nós, os magros, somos junco da lagoa. A moléstia é o vento forte: curva-nos, mas não nos abate.
E com a sua imaginação de sempre:
- Gente gorda é como bananeira: cai, não endireita mais. Está cheia dágua.
Um mês depois, Paulo Barreto morria de repente.
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).

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