sexta-feira, 5 de outubro de 2012

JOSÉ DIRCEU E OS OUTROS

Por Jornalista Sebastião Nery (*)
Raimundo Eirado, bravo baiano de minha querida cidade de Jaguaquara, foi presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) de 1958 a 1960, no governo de Juscelino, quando a UNE era realmente uma entidade de estudantes e não esse escritório de picaretagem.
Nunca a UNE foi tão influente e poderosa.
O vice era o depois ministro do Supremo Tribunal Federal Sepúlveda Pertence.
Os dois não eram comunistas, mas apoiados também por nós estudantes comunistas.
Quando veio o golpe de 1964, os militares abriram IPM (Inquérito Policial Militar) da UNE, “a partir de 1958”. O presidente e o vice já eram José Serra e Marcelo Cerqueira.
Há quatro anos Eirado e Pertence tinham deixado a Faculdade e eram procuradores.
Mas o IPM começava com eles.
EIRADO
Preso algum tempo, Eirado foi solto e o IPM continuava. Eirado procurou seu colega e amigo de Faculdade, o solidário e inesquecível Carlinhos Medeiros, filho de Carlos Medeiros, co-autor (com Francisco Campos) do Ato Institucional nº1, para pedir ao pai
que o tirasse do IPM.
O velho Carlos Medeiros prometeu ver o processo e o que poderia fazer.
Uma semana depois, disse ao filho:
- Não há como ajudar seu amigo. É impossível tirá-lo do IPM.
A capa do inquérito é assim: – “Raimundo Emanuel Bastos do Eirado Silva e outros”.
Se tirar o nome dele, o IPM fica … “E Outros”. Não pode ser.
Muito tempo depois a justiça tirou todos.
MENSALÃO
Quando abre as sessões de julgamento do Mensalão, o ministro Carlos Ayres de Brito, presidente do Supremo Tribunal, diz sempre assim:
- Declaro aberta mais uma sessão de julgamento da “Ação Penal 470 – “José Dirceu e outros”.
José Dirceu e seus advogados desde o início tentaram mudar o nome da Ação Penal, para retirar o nome dele da capa do processo, mas não conseguiram.
Como Eirado no processo da UNE, ele é o primeiro réu.
Com uma diferença fundamental: o processo de Eirado era mais uma ação da ditadura para amordaçar e calar a juventude e a democracia.
O processo de Dirceu é uma ação da mais alta Corte da Justiça brasileira para julgá-lo por crimes de trambicagens financeiras, com dinheiro público, a fim de comprar deputados venais e partidos de aluguel para apoiarem o Governo.
LULA
O que está acontecendo no Supremo Tribunal é uma lição histórica que por muitos e muitos anos não será esquecida.
Com sua cínica arrogância de ver o país como um curral de porcos comandados por ele, LULA, ainda no governo, dizia que, quando saísse, iria provar que o Mensalão foi uma farsa, que não ia dar em nada e desmoralizaria a oposição.
Foi uma criminosa lavagem cerebral.
Durante anos o PT repetiu incansavelmente a patranha.
E muita gente aparentemente lúcida, no Congresso e na imprensa, acreditou.
José Dirceu, entupido do dinheiro dos lobbies e maracutaias no governo, montou um esquema de imprensa com mais jornalistas do que toda a ABI.
São blogs, sites, facebook, twiter, tudo.
Dava-me pena ver, na “Globo News”, uma jornalista da seriedade e responsabilidade da Cristiana Lobo dizendo, cada noite, uma idiotice maior.
Cada vez que ela conversava com Dirceu, Genoíno, Rui Falcão e sua alma do mal, despejava sobre os pobres telespectadores a mentira diária.
Um dia era que o processo já estava prescrevendo.
Outro, que não havia provas e o STF nada tinha a fazer.
E sobretudo que, dos 11 ministros,7 tinham sido nomeados por Lula e 2 por Dilma, “todos bem conversados”.
Essa semana, quando saíram as cinco primeiras condenações, a Cristiana apareceu no vídeo como a Ismália de Alphonsus de Guimaraens:
Pálida e desconcertada, “pôs-se na torre a sonhar” e emudeceu.
CARTA CAPITAL
No fim de semana, aconteceu o que LULA e o PT jamais imaginaram.
A imprensa estampou nas capas as fotos dos cinco primeiros condenados e guardou, recortados e vazios, os espaços para “José Dirceu e Outros”…
E não foi só na “Veja” e “Isto É”. Foi até na aliada “Carta Capital”.
 (*) Sebastião Nery é jornalista e escritor.
Fonte: Divulgado In: Tribuna da Internet (terça-feira, 4 de setembro de 2012)

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