REPRESÂLIA
Alberto Faria - Conferência no Museu Histórico, a 14 de maio de 1924.
Vigoroso e inclemente na sua oratória, Luiz Gama, o grande negro abolicionista, era, não raro, atacado nos tribunais de modo impiedoso e grosseiro. Certa vez, no Foro de São Paulo, o dr. Falcão Filho, professor da Faculdade de Direito, exclamou, no exórdio de uma acusação, no Júri:
- Desci... Desci... Desci... E quem fui encontrar lá embaixo, senhores jurados? Luiz Gama!
Chegado o momento da defesa, O negro ilustre subiu à tribuna, e, sereno, parodiou-o:
- Subi... Subi... Subi... E quem fui encontrar lá em cima, senhores jurados?
E aludindo à mãe natural do ofensor, apontando-o, entre o riso da assistência:
- O filho da Maria Manca!....
A HUMILDADE DE FREI FABIANO
J.M. de Macedo - "Ano Biográfico", vol. III, pág. 146.
Religioso do convento de Santo Antônio do Rio de Janeiro, frei Fabiano de Cristo, que viveu no século XVIII, era de uma humildade comovedora. O povo tinha-o como santo.
Certa noite, muito tarde, um frade velho e irascível que se achava enfermo, pediu-lhe um caldo. Não querendo incomodar os serventes, frei Fabiano foi em pessoa prepará-lo, e, de regresso, o frade, não achando o caldo do seu gosto, atirou com a xícara ao rosto do pobre leigo.
A face ferida e queimada, Frei Fabiano caiu-lhe aos pés.
- Perdoe-me, meu padre! - pede humildemente.
E de mãos postas:
- Eu vou preparar-lhe outro caldo!
O velho frade, tocado daquela humildade, saltou do leito e, chorando, caiu de joelhos, pedindo o seu perdão.
O RESTO DE UM TESOURO
Joaquim Nabuco - "Um estadista do Império", tomo II, pág. 54.
Mestre e chefe de duas gerações de políticos, o Marquês de Olinda teve o desgosto de ver arrebatadas pela morte, uma a uma, as figuras pernambucanas formadas à sombra do seu prestígio. Dentro de um ano, de março de 1863 a março de 1864, viu ele morrer Sebastião do Rego e Francisco Xavier Pais Barreto, ministros ambos, um da Guerra, outro da Marinha, do Gabinete Ferraz.
Ao fechar o caixão deste último, exclamou o Marquês, a voz trêmula, entre a comoção de todos que o cercavam:
- Aí vai encerrado o resto do tesouro que eu esperava deixar à minha província!
ESCRÚPULOS... DE "TOILETTE"
Taunay - Prefácio aos "Homens e Coisas do Império", pág. XXI.
O movimento de 15 de novembro. tão grave quanto inesperado, isolou inteiramente o imperador Pedro II de quantos lhe deviam solidariedade no momento da queda. Dos palacianos habituais, nenhum lhe apareceu, procurando cada qual retrair-se mais, deixando-se ficar em casa.
Monarquista leal e dedicado ao monarca, o visconde de Taunay, senador do Império, informado da deportação do soberano, resolveu ir, correndo mesmo todos os riscos, levar-lhe o seu abraço de despedidas. Antes de sair, foi, porém, à casa de outro senador, seu vizinho, perguntando-lhe se não queria ir também.
- Eu, senador? É impossível! - desculpou-se este.
E na única evasiva que encontrou:
- O senhor não está vendo que eu estou vestido de claro?
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).
Nenhum comentário:
Postar um comentário