quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Patricinhas e Mauricinhos: uni-vos!

Por Ricardo Alcântara (*)
Com o tempo, as surpresas se tornam menos frequentes e, talvez por isso, mais desconcertantes do que sempre foram – acresce ali, ao inesperado que as define, outra surpresa ainda maior: a de ter sido mais uma vez surpreendido, mesmo depois de se ter visto tantas outras que já pareciam suficientes.
A recente pesquisa Datafolha/O Povo trouxe outra dessas surpresas: apesar do “empate técnico”, um candidato, Roberto Cláudio, submete seu adversário, Elmano de Freitas, a uma diferença de nada menos do que 34% de preferência entre eleitores com faixa de renda superior a dez salários mínimos.
Vota no candidato do governador a grande maioria dos que moram em casa própria com rua asfaltada e carro na garagem. Eles têm formação superior e pagam plano de saúde. Os filhos estudam em escolas particulares. Frequentam aeroportos, só compram em shoppings e usam smartphones.
Se a diferença tão acentuada já é, por si, um indicativo consolidado de rejeição – se não ao candidato Elmano, certamente a quem ele representa – não significa que o governo estadual tenha falhado em ações básicas: seu candidato, com 45%, também não vai mal entre eleitores de baixa renda.
A disparidade é incomum e só resta supor que a “lupenfobia” de Meireles e adjacências aproveitou a boa ocasião para sair do armário. O percentual – 34%, repito porque é muito acima da curva média – indica uma inusitada mobilização de classe, dessas que não se vê desde a Guerra Fria.
Roberto Cláudio é candidato de sete em cada dez mauricinhos ou patricinhas da cidade. Como há sempre algum espaço para fomentar ressentimentos de tal ordem em um país ainda tão desigual, o passivo deverá ser explorado pela militância do adversário nas mobilizações da zona Oeste.
Indecisos: uma Coca-Cola no deserto.
Dado da mesma pesquisa oferece mais combustão à militância do candidato da prefeita: é maior o número de indecisos que admitem a possibilidade de votar nele (41%) do que no seu adversário (27%), mesmo tendo este já agregado o apoio de muitos candidatos derrotados no primeiro turno.
Hoje, saber o que essa gente quer é a prioridade número um dos comandos das campanhas.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.

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