As classes sociais no Brasil deveriam ser divididas em apenas cinco e simplificadas: muito pobre, pobre, média, rica e muito rica (como em vários países do mundo). Classificar como “classe média” uma família de cinco pessoas ganhando só R$ 1.740 ao mês é uma verdadeira agressão!
Num país como o nosso, em que 12% da população possui mais de 70% da riqueza nacional, a saúde e a educação do pobre ficam muito difíceis.
E, quando todos pagam o mesmo imposto de renda, a coisa fica mais difícil ainda. Eu, com minha mísera aposentadoria, pago 27,5% de imposto, porcentagem igual aos que têm milhões anuais de renda, inclusive o 8º mais rico do mundo, que é brasileiro. E os ricos que podem e sabem manejar seus rendimentos para suas declarações do IR?
Em muitos países desenvolvidos o imposto aumenta na medida em que a pessoa ganha mais e atinge determinados limites. E esses limites são variados, o que faz também grande diferença. Agora mesmo, na França, o assunto está causando uma grande polêmica e reação quando o presidente François Hollande está prometendo aplicar um imposto de 75% sobre qualquer pessoa que tenha renda superior a um milhão de euros por ano. Na Suécia já é 57%, Japão 50%, Reino Unido 50%, Canadá 46%, Alemanha 45%, Itália 43% e Estados Unidos 35%. Em alguns desses países, muitos ricos deduzem seus pesados impostos aplicando, eles mesmos, na criação e manutenção de excelentes fundações de ação social, cultural, de desenvolvimento humano e religioso. Parcelas elevadas desses impostos são permitidas, por lei, para aplicação direta em organizações sem fins de lucros.
Por feliz coincidência, trabalhei durante alguns anos para a Fundação Kellogg’s e pude comprovar a excelência dos seus resultados, a sua clareza administrativa e o valor positivo que a empresa Kelloggs, americana, oferece para a mesma. Também trabalhei e criei, aqui no Brasil, OSs e Oscipes, todas com grandes dificuldades claras e evidentes de negação governamental que quer, ele próprio, aplicar o dinheiro para manejo político.
Daí, a nossa proposta: vamos aumentar o IR do cidadão rico e aplicar para o bem do pobre? Não é apenas com cestas básicas, Bolsa Família e programas semelhantes que os problemas vão ser resolvidos a curto prazo e isto é que é fundamental e urgente. Educação, saúde e segurança são os elementos vitais para a melhoria da qualidade de vida do povo brasileiro.
Agora, quem vai ter a coragem de mexer com os ricos? Quem vai ser suficientemente forte e independente para isso? E o que estamos vendo no Brasil, na época atual, é o aumento exagerado da corrupção, da violência, do uso de drogas e da insuficiência dos órgãos públicos fundamentais para os pobres. Sabemos que a reação será muito grande e poderosa, mas temos de convencer muitos dos ricos que, como demonstram muitos especialistas no assunto, dinheiro demasiado não é o responsável fundamental pela melhoria da qualidade de vida da pessoa. E mais, é bom lembrar a metáfora de Jesus, quando disse que no céu estão muito mais pobres do que ricos, aqueles que passam “no fundo da agulha”.
(*) Médico, professor e ex-presidente da Academia Cearense de Medicina.
Publicado In: O Povo, 3/10/2012.
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