Depois de muitos anos estudando a Qualidade de Vida das pessoas, comprovei, como vários outros estudiosos do assunto, que temos também de nos preparar para poder morrer com qualidade.
E então verificamos que isto não é fácil. Muitas vezes conseguimos ter uma boa Q.V., mas nos momentos anteriores e durante a morte, novos condicionantes e determinantes aparecem. São elementos difíceis de evitar e, até mesmo, de controlar.
De uma maneira simplificada podemos destacar o aparecimento dos condicionantes do conforto físico, psicológico, social, espiritual e médico. Alguns de enorme importância e que merecem verdadeiros livros para detalhamento e trabalhos de pesquisas internacionais. São muitos os estudos já realizados.
Também destaco que eles podem ser específicos ou múltiplos. E então, para nós que estudamos e trabalhamos com os idosos, sentimos, na medida em que podemos alcançar mais anos de vida, quando passamos a ter uma traumática e irreversível condição de vida dolorosa, sintomática e angustiante.
Vem então a pergunta, mesmo para os que têm uma firme aceitação espiritual / religiosa: Por que? Ou o que não estamos ainda sabendo fazer, nós que trabalhamos com isso? E também por que alguns médicos consideram ainda o tema como um tabu?
E a Medicina Paliativa e a morte com melhor qualidade passaram a ser assuntos de interesse universal.
Pena que no Brasil estejamos atrasados nesse tipo de Atenção de Saúde e da nossa Vida com Qualidade. Em uma análise realizada, recentemente, em 40 países, utilizando o Índice de Qualidade de Morte, a Consultoria EIU (Economical Inteligence Unit), encontrou o Brasil em 38º lugar. Indicadores elementares utilizados na pesquisa, demonstram o baixo nível apresentado pelo nosso país, mesmo comparado com outros pequenos e pobres países da América Latina. O Brasil só não perdeu para a Índia e Uganda, países com IDH muito baixos.
E vem então a pergunta: quando será que o Ministério da Saúde vai também incorporar esse importante e frequente problema dos idosos brasileiros? Muitos deles afirmam que preferiam morrer a continuar em condições tão penosas e traumáticas.
O tema comporta vasta discussão em termos de adequação, administração e gastos necessários. Vamos pensar no assunto? Vamos desenvolver mais ainda a nossa Medicina Paliativa? Ou vamos adotar a resignação: se não temos nem qualidade de vida por que pensar na qualidade de nossa morte?
Vamos criar a nossa Rede: “Morte com Qualidade”?
(*) Médico, professor e ex-presidente da Academia Cearense de Medicina.
Publicado In: O Povo, 28/11/2012.
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