Praça Portugal, Fortaleza, nos anos sessenta (Arquivo Nirez) |
A Praça Portugal, situada na confluência de duas importantes artérias de Fortaleza, sempre tem sido alvo da crítica generalizada de motoristas e de usuários de transportes coletivos, por estar contida em um balão, sempre congestionado e recordista de colisões.
Apesar desses percalços, já foi uma praça bonita, cujo pecado mortal, determinante do inverso, repousa, para a gestão atual do município, na sua localização física: o coração da Aldeota. Tal logradouro, por estar situada em uma área nobre da cidade, é relegado a um plano secundário, justo porque entende a nossa alcaidina que, para Fortaleza, o que interessa é a periferia, onde, aliás, também é bem mais fácil garimpar votos.
Na visão dos gestores da Fortaleza Bela, a manutenção e o reparo dos equipamentos públicos, posicionados em áreas de maior valorização econômica, deveriam ser encargos exclusivos dos burgueses que vivem no entorno ou nas imediações dos mesmos. Por conta disso, a Praça Portugal agoniza, em estado de degradação, e somente é apreciada na época natalina, quando se vê decorada, à conta, direta ou indiretamente, dos lojistas da região.
Várias têm sido as propostas, apresentadas em diferentes gestões municipais, para solução do problema: explosão ou implosão dessa praça, construção de um túnel ou de um viaduto em uma das avenidas que dá origem à mesma etc. Agora mesmo a Prefeitura, nos seus estertores finais, decidiu opinar sobre a questão, indicando a montagem de um sistema binário, de mão única, aplicável às avenidas Virgílio Távora e Desembargador Moreira. Essa medida, embora não pareça tão bizarra, deveria ser melhor estudada pela engenharia de tráfego e levar em conta a participação dos usuários e demais interessados, mormente os que mais respondem pela composição do orçamento municipal.
Os patrícios lusos que moram aqui, certamente não irão ficar felizes, se a praça que relembra as suas origens, vier a desaparecer do mapa da cidade. Quem vivenciou a Fortaleza, da gestão do ex-prefeito Lúcio Alcântara, também não vai perdoar essa malvadeza perpetrada contra um espaço público, onde floresceram tantos amores, ao tempo das “feirinhas”, de saudosa memória.
Que venham mudanças, porque é isso que a situação atual reclama, mas que a Prefeitura se lembre de que nem sempre as soluções novas resolvem às pendências antigas.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Médico e economista em Fortaleza
* Publicado In: O Povo. Fortaleza, 18 de dezembro de 2012. Caderno A (Opinião). p.7.
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