terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O prefeito pode ter líder. Chefe, não.

Por Ricardo Alcântara (*)
O governador dos cearenses tem uma conduta pública habitualmente retraída. Não é de arroubos, como o irmão mais velho, nem é mordaz como o mais novo. Engenheiro, fala pouco. Faz bem: suas declarações, é comum, geram ruídos e constrangimentos.
Principal mentor da vitória eleitoral de Roberto Cláudio, Cid Gomes manifestou suas expectativas pessoais com pedido de aparente modéstia, mas indisfarçável arrogância: quer “apenas” que o prefeito não atrapalhe seus projetos para a cidade.
Parece pouco, mas é quase tudo. Pela declaração do governador, o novo prefeito lhe deve obediência: o que julgar correto deve ser acatado sem contestações por quem tudo deve a ele, e não aos eleitores que com votos o confirmaram. Foi o que deu a entender.
Conferindo ao governador o benefício da melhor versão, suponho que estava apenas exorcizando em desabafo seu desgosto com contratempos vividos na companhia de uma parceira independente (todos sabem, a prefeita anterior não colecionava desaforos).
Cidadãos vacinados devem aguardar. A ver, se o prefeito irá se impor com a autonomia que um cargo eletivo de tal envergadura recomenda. Afinal, quem seria Roberto Cláudio sem os Ferreira Gomes? Bem menor. E ainda menor será se adotar conduta subalterna.
Pelas palavras do governador, deveríamos depreender, por exemplo, que, fosse hoje, iria adiante a estupidez de construir um estaleiro em área metropolitana, algo que nem os países asiáticos, algozes do meio ambiente, fazem mais, dadas as pressões internacionais.
Quero crer que a declaração do governador contenha mais desabafo do que expectativas e sua relação com o atual prefeito, por maior que seja a sintonia política e a dívida eleitoral, respeite os limites de autonomia de cada um e deixe o homem trabalhar.
Em seus primeiros dias de principado, Roberto Cláudio se esforça para transmitir à cidade a imagem de gestor motivado, próximo dos fatos e dedicado à sua rotina – um contraponto à prefeita anterior que nada tem de involuntário. Está indo na veia.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.
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