quarta-feira, 6 de março de 2013

Plano B é melhor que o Plano A



Por Ricardo Alcântara (*)
O PT está bem para a sucessão presidencial de 2014 porque tem um bom Plano A e um Plano B ainda melhor: se persistirem os índices modestos de crescimento econômico, o carisma de Lula poderá ser convocado para um novo “sacrifício”.
Reparem: ele diz que não quer, mas não diz que não pode. Sim, Dilma vai bem, obrigada, mas prestígio e popularidade são atributos distintos. Sob ameaça, o partido pode retirar o nome de Lula da pasta dos “improváveis” e colocá-lo à mesa.
Sua presença em Fortaleza e por todo o país é vista como uma antecipação da campanha eleitoral – uma mobilização forçada pelo desgaste do julgado mensalão, o menor crescimento econômico e o surgimento de outros nomes com algum peso.
Há um agravante: nas últimas eleições municipais, o partido perdeu espaços aqui, no Nordeste, para onde o grosso dos eleitores potenciais do PT, antes situado na classe média das regiões do sul, havia se deslocado nos seus dez anos de poder.
Em eleições recentes, quando o governo também ostentava índices de aprovação elevados, Lula e Dilma foram ao segundo turno (Alkmin e Serra) para vencer aquela parcela ponderável do eleitorado conservador que nunca lhes deu trégua.
Segundo pesquisas de opinião, os governos petistas são aprovados também por boa parte do eleitorado conservador, mas, diante da alternativa eleitoral, optam por mudança. Para estes, o melhor lema seria: “bom com o PT, melhor sem ele”.
Deve ser por aí, o que os tucanos andam dizendo a Aécio Neves, para quem o trabalho nunca foi uma religião, na tentativa de convencê-lo a trocar os prazeres da noite carioca por uma longa peregrinação Brasil afora em busca de votos.
Há outro. Após bons mandatos de governador, as opções convencionais de Eduardo Campos seriam uma precoce passagem pelo senado ou submeter-se como ministro aos humores sabidamente insalubres de uma reeleita presidente Dilma.
Jovem ainda, ele sabe: é cedo demais para abdicar de riscos. A candidatura presidencial renderia, na pior hipótese, acumulação de forças para mais adiante – uma tentativa de aportar com êxito pelo trajeto em que Ciro Gomes naufragou.
Em campanha, Aécio e Eduardo ostentariam seus êxitos como gestores. São personagens carismáticos e, com bom trânsito político, poderão na disputa ocupar espaços consideráveis para a exposição de suas propostas. Haverá quem os ouça.
Para fechar o quadro, a mosca na sopa: Marina Silva, mulher como Dilma e que, com 20% de votos, já deu provas de que sua mensagem toca o coração da juventude de classe média urbana, o núcleo original dos multiplicadores petistas.
Logo, à mirada de hoje, não parece um quadro tranquilo para a continuidade do que os companheiros do PT gostam de chamar de “projeto” – termo modesto, uma espécie de versão nano para as antigas aspirações, ultra reformistas, do partido.
Vê-se que, na perspectiva de seus interesses, outra alternativa não teve o PT, senão dar play no curso sucessório, mesmo provocando atribulações na rotina de gestão e dobrando as custas da aliança com as hienas do principal parceiro, o PMDB.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.
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