Paulo Elpídio de Menezes Neto
(*)
Desde os tempos em que os gregos votavam na praça de Ágora
para a tomada das decisões de interesse coletivo mais importantes, a novidade
foi sendo compartilhada entre os cidadãos prestantes. Mas ela não fez a cabeça
de todos, sempre houve recalcitrantes, insatisfeitos com essa moleza de ouvir
os palpites de todos, fragilidade considerada por muitos como uma relaxação
intolerável na arte de governar.
Seja como for, a verdade é que alcançamos alguns progressos,
entre revoluções, golpes e eleições, embalados pelas revelações dos profetas da
salvação ou pela lógica das armas. Está no cerne do conceito de democracia o
respeito pela minoria. Na prática, não é bem assim. Quem está no poder manda;
se a maioria de que dispõe o governo é incerta, mal sabida e suspeita,
negociam-se os apoios que garantem o que os políticos chamam gentilmente de
“governabilidade”. Ser oposição entre nós, brasileiros, é fatalidade dolorosa
que deve ser contornada a qualquer preço. O que se perde nos votos ganha-se,
afinal, nas alianças. A multiplicidade partidária aceita esses ajustes
engenhosos que permitam ao governo governar, como é da sua índole, e que seus
aliados não passem privações políticas humilhantes. Esse viés vem de longe,
ainda com a chegada da Corte ao Rio de Janeiro. Já a República chegou sem que
ninguém acreditasse no seu advento – e logo houve adesão organizada de antigos
fidalgos convertidos, então, aos ideais republicanos.
Com Vargas, instaurado o Estado Novo (que provou, com o
tempo, não ser tão novo quando se dizia), os derrotados da véspera foram
mudando a plumagem e, em pouco tempo, eram governo, ministros, funcionários e
felizes permissionários. Vargas, fora do poder, mas sempre por perto, como
ocorre aos que conheceram um dia a curul presidencial, fundou o PSD, espécie de
ímã político, em torno do qual ex-revolucionários e progressistas noviços se
reuniram em doce harmonia, em nome da governabilidade. Os que não couberam
nessa barca da glória foram cantar em outra freguesia. O PSD foi, a seu modo, a
antecipação da Arena, representou o ideal de partido majoritário e viria
tornar-se o maior partido do Ocidente, como dizia o mineiro Francelino Pereira.
Em 1964, os construtores do nosso milagre alcançaram a perfeição. Fechado o
Congresso, baixados atos e cometidos fatos, o governo dos generais cria um
partido designado para ser governo e um outro, “vocacionado” para ser oposição.
O poder tem os seus encantos, bem o sabemos, e desperta respeito reverencial.
Um velho coronel cearense, presente a uma reunião na qual se
encontrava o dr. José
Martins Rodrigues, secretário da Justiça na Interventoria de
Menezes Pimentel, não conteve o ímpeto, aproximou-se da autoridade e
cumprimentou-a: - Como vai, governo?
O que dizer de um sistema partidário com 33 partidos
organizados e outros por nascer?
(*) Cientista político e membro da Academia
Brasileira de Educação
Fonte: O
Povo, 29/05/13. Opinião, p.6.
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