O ORGULHO DE
ANTÔNIO CARLOS
J.M. de Macedo
- "Ano Biográfico", vol. III, pág. 383.
Implicado na Revolução Pernambucana de 1817, foi Antônio
Carlos, esmagado esse movimento, preso em Olinda, e remetido para a Bahia, onde
ficou encarcerado.
Alguns dos seus companheiros de aventura haviam sido, já,
condenados à morte, e executados; e tudo prenunciava que ele teria o mesmo
destino, quando o procurou na sua masmorra um emissário da Corte, dizendo-lhe
que, se pedisse perdão, o rei D. João VI o perdoaria.
Orgulhoso como sempre, o grande tribuno ergueu-se,
indignado.
- Isso, nunca! -
declarou.
E no mesmo tom:
- Perdão, só o peço a Deus, dos meus pecados; ao rei, só
peço justiça!
"SUICIDEM-ME
OS SENHORES!"
Anais da Constituinte
Republicana, vol. I, pág. 250.
Sessão do Congresso Constituinte, de 19 de novembro de
1890. Discute-se um artigo da futura Constituição, e César Zama, representante
da Bahia, combate-o vigorosamente.
- Eu não dou o meu voto a essa disposição, - exclamava. - Houve
um deputado que representava a minha província, o qual dizia...
E citando a frase do outro:
- Suicidem-me os senhores, porque, por minhas mãos, eu não
me suicido!...
FRASE DE CORTESÃO
Alberto Rangel
- "Pedro I e a Marquesa de Santos", pág. 199.
Em meados de setembro de 1827 o grande assunto da cidade
do Rio de Janeiro era o rompimento do Imperador com a Marquesa de Santos. O
próprio monarca não guardava reservas sobre essa atitude, dando, assim,
liberdade aos seus íntimos para se manifestarem.
Cortesão dos mais apurados, o Marquês de Queluz foi um
dos primeiros a patentear a sua alegria pelo modo por que Pedro 1 se libertava,
ou pretendia libertar-se, da "mulher fatal".
- Senhor! - exclamou,
beijando a mão ao monarca.
E num arrebatamento de áulico:
- Caístes como homem, mas erguestes-vos tal um herói e a
admiração da Europa será a vossa recompensa!...
LUTO DE BOÊMIO
Coelho Neto -
"Revista da Academia Brasileira de Letras", n° 12, de abril de 1913.
O grupo de boêmios de que faziam parte Bilac, Murat,
Coelho Neto, Guimarães Passos, Pardal Mallet, Paula Ney e outros, atravessava a
sua fase luminosa, quando, um dia, ao chegarem estes à pensão em que morava
Aluísio Azevedo, o encontraram com os olhos vermelhos de chorar. Tinha-lhe
morrido a mãe no Maranhão, e o romancista, além de outras preocupações, estava
a braços com a do luto, impossível na ocasião pela absoluta falta de dinheiro.
A única roupa que possuía era um terno cinzento, absolutamente inútil naquela
emergência.
Guimarães Passos havia chegado, porém, recentemente de
Alagoas, e era dono de um terno preto, destinado a grandes cerimônias. Correu à
casa, e trouxe-o, para emprestar ao amigo, enquanto este arranjava outro.
Passou-se, entretanto, o primeiro mês. Passou-se o
segundo. Passou o terceiro, e Aluísio sem devolver ao dono o terno preto, em
que se metia diariamente. Guimarães Passos não suportou mais a demora;
plantou-se, uma tarde, à rua do Ouvidor, ao lado de Coelho Neto e Alcindo
Guanabara, e, à passagem do autor d' O Mulato, que vinha com a sua roupa
emprestada, chamou-o:
- Aluísio!
E fazendo-o parar, intimativo:
- É preciso que alivies o luto!...
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).
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