domingo, 30 de junho de 2013

O BRASIL ANEDÓTICO LIV



O ORGULHO DE ANTÔNIO CARLOS
J.M. de Macedo - "Ano Biográfico", vol. III, pág. 383.
Implicado na Revolução Pernambucana de 1817, foi Antônio Carlos, esmagado esse movimento, preso em Olinda, e remetido para a Bahia, onde ficou encarcerado.
Alguns dos seus companheiros de aventura haviam sido, já, condenados à morte, e executados; e tudo prenunciava que ele teria o mesmo destino, quando o procurou na sua masmorra um emissário da Corte, dizendo-lhe que, se pedisse perdão, o rei D. João VI o perdoaria.
Orgulhoso como sempre, o grande tribuno ergueu-se, indignado.
- Isso, nunca! - declarou.
E no mesmo tom:
- Perdão, só o peço a Deus, dos meus pecados; ao rei, só peço justiça!
"SUICIDEM-ME OS SENHORES!"
Anais da Constituinte Republicana, vol. I, pág. 250.
Sessão do Congresso Constituinte, de 19 de novembro de 1890. Discute-se um artigo da futura Constituição, e César Zama, representante da Bahia, combate-o vigorosamente.
- Eu não dou o meu voto a essa disposição, - exclamava. - Houve um deputado que representava a minha província, o qual dizia...
E citando a frase do outro:
- Suicidem-me os senhores, porque, por minhas mãos, eu não me suicido!...
FRASE DE CORTESÃO
Alberto Rangel - "Pedro I e a Marquesa de Santos", pág. 199.
Em meados de setembro de 1827 o grande assunto da cidade do Rio de Janeiro era o rompimento do Imperador com a Marquesa de Santos. O próprio monarca não guardava reservas sobre essa atitude, dando, assim, liberdade aos seus íntimos para se manifestarem.
Cortesão dos mais apurados, o Marquês de Queluz foi um dos primeiros a patentear a sua alegria pelo modo por que Pedro 1 se libertava, ou pretendia libertar-se, da "mulher fatal".
- Senhor! - exclamou, beijando a mão ao monarca.
E num arrebatamento de áulico:
- Caístes como homem, mas erguestes-vos tal um herói e a admiração da Europa será a vossa recompensa!...
LUTO DE BOÊMIO
Coelho Neto - "Revista da Academia Brasileira de Letras", n° 12, de abril de 1913.
O grupo de boêmios de que faziam parte Bilac, Murat, Coelho Neto, Guimarães Passos, Pardal Mallet, Paula Ney e outros, atravessava a sua fase luminosa, quando, um dia, ao chegarem estes à pensão em que morava Aluísio Azevedo, o encontraram com os olhos vermelhos de chorar. Tinha-lhe morrido a mãe no Maranhão, e o romancista, além de outras preocupações, estava a braços com a do luto, impossível na ocasião pela absoluta falta de dinheiro. A única roupa que possuía era um terno cinzento, absolutamente inútil naquela emergência.
Guimarães Passos havia chegado, porém, recentemente de Alagoas, e era dono de um terno preto, destinado a grandes cerimônias. Correu à casa, e trouxe-o, para emprestar ao amigo, enquanto este arranjava outro.
Passou-se, entretanto, o primeiro mês. Passou-se o segundo. Passou o terceiro, e Aluísio sem devolver ao dono o terno preto, em que se metia diariamente. Guimarães Passos não suportou mais a demora; plantou-se, uma tarde, à rua do Ouvidor, ao lado de Coelho Neto e Alcindo Guanabara, e, à passagem do autor d' O Mulato, que vinha com a sua roupa emprestada, chamou-o:
- Aluísio!
E fazendo-o parar, intimativo:
- É preciso que alivies o luto!...
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).

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