Dilma, na última sexta-feira
(21 de junho) acompanhei o seu pronunciamento à nação. Enquanto você vociferava
um amontoado de inverdades, pensava no tempo que estava a perder diante da
televisão. Ato contínuo, fiquei imaginando a vergonha que é um chefe de Estado
ser obrigado a ler um texto do qual discorda. Ao longo de mais de trinta anos
de carreira, jamais me deparei com um pronunciamento tão esquizofrênico.
Apesar das nossas divergências
político-ideológicas, acreditava ser você uma mulher de pulso. Mas não, você se
mostrou uma pessoa fraca e manipulável. Aceitar ler um texto preparado por
marqueteiros oportunistas foi demais. Mesmo assim, acreditando que milagres
acontecem, preferi aguardar sua resposta às roucas vozes das ruas, as mesmas
que você disse ouvir com atenção. Qual não foi minha surpresa quando, na
segunda-feira (24 de junho), com o mesmo semblante de contrariedade, você
anuncia um pacto que é a continuidade da utopia da sexta.
Ainda procuro uma explicação
para tão degradante papel, mas o máximo que posso concluir é que seu governo
chegou ao fim e você está fadada a ser uma derrotada política. O seu erro maior
foi ter poupado o lobista-fugitivo Lula, que diuturnamente trama nos bastidores
para inviabilizar sua reeleição. Para quem foi terrorista com destaque nas
páginas da história verde-loura, seu comportamento crédulo é condenável.
Confesso que não sei o que foi
pior. O pronunciamento mentiroso da última sexta-feira ou a solução sorrateira
da segunda. O seu semblante diante das câmeras, na sexta e na segunda, era de
desespero. Você sabe que errou feio e que o futuro será pouco sombrio. Caiu em
desgraça junto à opinião pública. Fosse pouco, você aceitou propostas absurdas
que lhe foram entregues como as últimas chaves do paraíso.
Lembra-se, Dilma, quando você
ainda engrossava as fileiras do PDT, morava em Porto Alegre e nos
saraus políticos, na sua casa, referia-se aos petistas como “essa gente”? Pois
bem, Dilma, se alguma vez na vida você acertou em cheio, foi classificando
daquela forma os seus companheiros de agora. É exatamente “essa gente” que
trama o seu despejo do Palácio do Planalto. Mesmo assim, você aceita as
imposições dessa gente.
Que o poder vez por outra exige
uma mentira aqui e acolá todos sabem, mas você, Dilma, ultrapassou as
fronteiras do bom senso. Mentir faz parte da liturgia do cargo que ocupa, mas
transformar um pronunciamento em ode à mitomania é um descalabro. A desfaçatez
foi tão acintosa, que um desavisado que despencou no Brasil naquele momento
acreditou que você acabara de assumir o poder e lá estava prometendo mudanças
aos brasileiros. Dilma, o seu partido, o bandoleiro PT, está no poder há mais
de uma década. Nesse período, os magnânimos petistas dedicaram-se às lambanças
e colocaram tudo a perder, mas agora, cambaleando na crise política, você quer
dividir o ônus com governadores e prefeitos. Isso é querer agarrar-se a um
galho durante queda-livre no precipício.
Entre a dureza da verdade e a
decepção da mentira, a primeira opção será sempre a melhor. A única e
derradeira possibilidade de você entrar para a história, depois dos pífios
espetáculos que protagonizou, Dilma, é revelar a verdade aos brasileiros.
Explique ao povo a extensão da herança maldita que recebeu. Rompa de uma vez
com essa obediência obtusa e vexatória, mandando Lula e seus apaniguados à vala
da verdade. O Brasil não pode mais conviver com essa farsa criminosa que domina
a cena há mais de uma década. O povo cansou, mas você pode resgatá-lo do
inconformismo. Basta ter a mesma coragem que a levou a enfrentar a ditadura
militar. O que não significa que cá estou a concordar com os métodos que você
usou no enfrentamento.
Longe de ser uma estreante na
vida pública, você sabe que qualquer das medidas anunciadas surtirá algum
efeito dentro de cinco anos ou mais. Na saúde, por exemplo, o setor enfrenta
sérios problemas de infraestrutura. De nada adiantará ações pirotécnicas em
searas que não suportam foguetório. O mesmo pode-se dizer da educação, que
continua no desvio à espera dos royalties do petróleo. Dilma, essa proposta é
tão absurda, que por vezes penso que vocês estão de brincadeira. Os vinténs do
pré-sal hão de surgir daqui a dez anos. Depois de investidos esses tostões das
profundezas oceânicas, a educação pública só apresentará resultado efetivo
depois de uma década. Ou seja, você e o PT querem impor ao Brasil um atraso de
pelo menos cinquenta anos. Sei que os palacianos estão com a vida ganha e com o
futuro de algumas gerações garantido, mas é preciso pensar na sociedade como um
todo.
No pacto anunciado na
segunda-feira, você sugeriu transformar atos de corrupção dolosa em crime
hediondo. Primeiro você precisa explicar aos especialistas o significado do
neologismo “corrupção dolosa”. Dilma, você por certo não foi à escola no dia em
que o professor de Língua Portuguesa explicou o significado da palavra dolo.
Agir com dolo é quando há a intenção de atingir um fim específico. Em outras
palavras, a corrupção é essencialmente dolosa. Jamais poderia ser culposa, pois
o corrupto e o corruptor não cometem o crime sem intenção definida e
premeditação. Partindo do pressuposto que sua teoria é válida em termos
jurídicos, os mensaleiros, sem exceção, já deveriam estar contemplando o nascer
do astro-rei de forma geometricamente distinta. É isso, Dilma, ou estou
enganado? Ou essa tese só vale a partir de agora, depois que a canalha
governista se lambuzou na cornucópia da corrupção?
Caso insista nesta proposta
marcada pela ousadia burra e rascunhada às pressas sobre as pernas de algum
estafeta, o trabalho será árduo e você corre o risco de acabar sozinha na
Esplanada dos Ministérios. Afinal, o seu governo não é composto por patriotas
inveterados, mas por negociantes inescrupulosos adeptos do banditismo político.
Preocupado em poupá-la de aperreios legais, sugiro que contrate urgentemente
uma empreiteira para erguer alto e intimidador muro no entorno da Esplanada dos
Ministérios, transformando o quadrilátero planaltino em prisão de corruptos
profissionais. Custará muito menos do que construir cadeias para receber esses
saltimbancos que fazem da política o moto contínuo do crime. Dilma, aceite a
minha sugestão, pois do contrário faltará gente para passar a tranca na cadeia.
No que tange à hediondez, você
não deve saber o real significado da palavra, que vez por outra desponta no
horizonte do “juridiquês”. Dilma, para que você compreenda o estrito
significado da palavra hediondo, apelo a exemplo que é do seu conhecimento.
Hediondo, Dilma, foi o governo de Luiz Inácio da Silva, que agiu de maneira
torpe ao endossar o escândalo do Mensalão. Lula foi covarde e cruel, com a sua
conivência, quando empurrou dezenas de milhões de brasileiros ao consumismo.
Caso insista em transformar corrupção em crime hediondo, sugiro que mude a sede
do governo para o presídio da Papuda, pois muitos dos seus ministros,
assessores e colaboradores lá estarão fantasiados de Irmãos Metralha.
Voltando ao pronunciamento de
sexta-feira… Não faz muito tempo, Dilma, você disse que prefere ouvir o ruído
da democracia ao silêncio da tirania. Quem acreditou nessa sua declaração pouco
confiável decepcionou-se durante o pronunciamento, pois você afirmou que a
continuar a onda de protestos os brasileiros teriam muito a perder. Se não for
um golpe para a instalação do projeto totalitarista de poder do seu partido, os
brasileiros nada têm a perder, pois tudo que de razoável existia vocês,
petistas, destruíram em rápidos dez anos. Traduzindo para o velho idioma dessa
louca Terra de Macunaíma, você ameaçou os brasileiros com medidas mais duras em
termos de liberdade. Assunto que sequer encontrou espaço no vergonhoso pacote
de soluções. Só falta você ressuscitar o velho e enfadonho slogan da ditadura
militar “Brasil: Ame ou Deixe-o”.
Saiba, Dilma, que por convicção
lutarei até o fim contra qualquer medida autoritária que você eventualmente
adote. Sem nada mais a perder, meu compromisso é – e sempre foi – com o Brasil
e os brasileiros, que muitas vezes se sentem acuados diante da sua arrogância e
do rococó do cargo que ocupa. Você nasceu como nasce um brasileiro qualquer e
está presidente por um acidente de percurso da história. Você, Dilma, foi
eleita para o mais importante cargo do País na esteira da mentira, que agora se
transformou no seu algoz.
Você tornou-se marionete de um
golpe, eu defendo a democracia. Você se agarra cada vez mais à mentira, eu hei
de enfrentá-la com a verdade e a coerência. Prepare-se, pois o embate será
duro!
(*) Ucho Haddad
é jornalista político e investigativo, analista e cometarista político, cronista
esportivo, escritor e poeta.
Publicado In: http.://ucho.info
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