Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
"Para analistas do Projeto Rondon, os alunos ensinam os
moradores de zonas carentes a tratar doenças"
Nada a ver
com rondó, tipo de poesia ou de música, na Alemanha e na Itália. Nem com
randomização, seleção aleatória, fortuita, sem objeto definido. Randomização,
termo inicialmente usado em agricultura, passou a integrar a terminologia
médica.
Refiro-me ao
marechal Cândido Mariano da Silva Rondon (1865–1958) filho de índios, notável
sertanista e desbravador de nossas fronteiras setentrionais ou boreais (ao
norte; ao sul, seriam austrais ou meridionais). Em sua homenagem foi criado,
durante a ditadura militar (1967), o Projeto Rondon, sob a coordenação dos
ministérios da Defesa e da Educação. Surgiu como política de extensão
universitária, de caráter assistencial. Funcionou daquele ano até 1989, sendo
relançado em 2005, a
pedido da União Nacional dos Estudantes. Para seus críticos, seria uma maneira
de excluir, isolar jovens líderes universitários contrários àquele regime de
exceção, para tanto atraindo-os, cooptando-os.
O programa de
extensão é uma das atividades primordiais das universidades públicas, ao lado
da graduação (ensino), da pesquisa, e da pós-graduação. Para alguns analistas
do Projeto Rondon, como exercício extensionista, os alunos ensinam os moradores
de zonas carentes a evitar e tratar doenças. Assim, integram-se, em práticas
sociais, à realidade nacional. Seu trabalho representaria outrossim uma
contraprestação pelo ensino superior gratuito recebido. Em comunidades menos
favorecidas dos sertões, estariam ressarcindo (indenizando, compensando) à
Universidade que lhes formou. Sem dispêndios pessoais.
Aliás, esta
feliz ideia da interiorização compulsória do médico recém-formado (“rondonização”)
fora propalada pelo professor Waldemar Alcântara, um dos fundadores da
Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, senador e governador do
Ceará. Em verdade, se o funcionamento da atual Fundação Projeto Rondon foi (ou
fosse) constante na área médica, seria possível minorar (ou eliminar) a
apregoada escassez de médicos na hinterlândia cearense (do alemão, hinter =
atrás; e land = terra). E até dispensaríamos os desinformados colegas cubanos
que aqui estariam a aportar, como escreveram há pouco na imprensa local os
médicos José Maria Pontes (presidente do sindicato local dos médicos) e o
professor médico/escritor Marcelo
Gurgel, “o problema de saúde pública brasileira não é pela
falta de médicos, e sim, de políticas públicas”.
Esta rondonização
vem sendo aqui há muito praticada pelo Grupo de Comunicação ao qual pertence
este jornal. O programa Saúde do Povo foi ao ar em 1955, por iniciativa do dr.
Lineu Jucá, então presidente do Centro Médico Cearense, com participação do dr.
Alequy Vasconcelos. Sua radiofonização ficou garantida pelos drs. Demócrito
Dummar e Mairton Lucena, este à frente da Unimed Fortaleza. Apresentado pelo
comunicador radialista Evaristo Nogueira, é de reconhecida utilidade pública
pelas orientações ali prestadas por ilustres entrevistados, sempre aos sábados,
das 11h às 12 horas.
(*)
Médico e secretário geral da Academia Cearense de Letras.
Fonte: O Povo,
Opinião, de 28/06/2013.
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