Marcelo
Gurgel, além de médico, economista, professor universitário, polígrafo,
doutor em Saúde Pública
e pós-doutor em Economia da Saúde, ainda encontra tempo e razões para se
dedicar ao exercício da literatura. Isso não nos surpreende, porquanto sabemos
que, desde os primórdios dos tempos, Medicina e Arte se complementam e
interagem na busca da beleza e da perfeição. Ambas se imbricam no interesse
pela vida e na inquietação do ser humano. Hipócrates já defendia essa verdade,
asseverando que a medicina, assim como a literatura, constitui-se uma arte, por
envolver sempre três atores: o médico, o paciente e a doença.
Marcelo
Gurgel faz parte desse privilegiado grupo, em que se
misturam, harmoniosamente, o homem médico – aquele que convive com a realidade
inerente à natureza humana: as doenças que põem em risco a vida; a morte,
sempre a “indesejada das gentes”, em seus letais momentos, inexoravelmente a
nos sugar; a loucura, o sofrimento, a angústia; o milagre do nascimento, tudo
isso suscitando sentimentos, – e o homem artista, aquele que, reinventando a
vida, recria um mundo em que podem conviver o bem e o mal, o louco e o sábio, o
amor e o ódio, cada qual desempenhando o seu papel no teatro da vida, e,
através da “arte verbal, passa a comunicar experiências inefáveis”.
Nas lides acadêmicas, Marcelo é sócio titular da Academia de
Medicina e da Academia Brasileira de Médicos Escritores. É membro da
SOBRAMES-CE (Sociedade Brasileira de Médicos Escritores) e da Sociedade Médica
São Lucas, afora outras instituições culturais. E, agora, vem engrossar as
fileiras do conto cearense com Estórias Esculapianas, livro agraciado
com o “Prêmio Literário Para Autor Cearense”, realizado pela Secretaria de
Cultura do Estado do Ceará, e que enfeixa contos, recriados no dia-a-dia
médico. São estórias, ora envolvendo o esculápio, ora o próprio paciente, em
situações engraçadas, narradas com leveza, correção, personalidade e,
sobretudo, com o conhecimento técnico de quem é sabedor dos meandros da
narrativa.
Homem de mente privilegiada, dono de vastos conhecimentos, tanto
no plano científico, como no literário, já tendo publicações nos gêneros:
crônica, conto, ensaio literário, memorialismo, discurso, romance e teatro, nesse
seu livro busca interpretar a trajetória do ser em sua real condição humana,
com suas dores, angústias, medos, sem deixar de ver o lado cômico da vida,
intercambiando experiências. Atentemos, também, ao fato de que o médico e
professor Marcelo
Gurgel corrobora que escreve como uma forma de libertação e
de superação desses elementos existencialistas adversos, imprimindo no leitor
uma procura de paz e harmonia, manejando tão bem a linguagem, os diálogos, a
nos mostrar o poder encantatório de dar às suas personagens de papel o sopro de
vida. E, para modelar esta existência sofrida, introduz em suas narrativas uma
receita espetacular: o hilário, o cômico que transmutam e transfiguram nosso
humor.
Desse modo, Marcelo Gurgel busca aproximar medicina e
literatura, porque esta o leva a imergir a águas mais profundas, de onde vem à
tona mais humano, mais livre e mais revigorado.
Obrigada.
Giselda
Medeiros
Da
Academia Cearense de Letras
23/8/2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário