Meraldo Zisman (*)
O mensalão
já não tem mais tanta importância. É fácil de entender. As notícias, por mais
gritantes que sejam, cansam. São as mesmas coisas e, ao fim de pouco tempo,
causam saturação. É preciso algum fato novo, uma renovação. O povo demanda e
aprecia algo diferente, muito embora, aparentemente, seja uma variação do mesmo
tema. As novas são quase sempre (ou sempre) as mesmas, com distintas roupagens.
E urge distrair o público com novos assuntos. Organizar uma boa sublevação de
ordem pública, por exemplo, é uma velha e histórica maneira de promover novos
acontecimentos, sem nada mudar.
Agora, com a
inovação da faminta internet para ser alimentada, torna-se, ainda, mais
importante, as pseudo-inovações. E, pior, em vez de findarem ou serem
substituídas, permanecem incólumes à televisão, ao rádio e, até, à
decadente/esclerosada mídia escrita. A eutanásia é proibida, mas permitem que
ela sobreviva. É considerada antidemocrática ou uma falta de humanidade. O que
tentar? A única maneira é lançar mão de velhos remédios, para tratar as mesmas
doenças.
Faz-se
necessário reacender as chamas democráticas. Como admitir uma nova semana sem
notícias impactantes? Como os servidores da mídia ganharão o leite de sua
prole? Uma ameaça à democracia (?) é sempre um motivo importante. Os fazedores
de desordens possuem um velho lema: “Que importam as vítimas se o gesto foi
belo?”. Qual o montante de raiva contida nas grandes metrópoles? Então, surge
uma boa saída: o transporte público. Os transportes públicos sempre foram a
pièce de résistance das revoltas urbanas. Sem falar na estudantada, esta massa
de manobra conhecidíssima e facilmente inflamável.
Falar de
estudantes é o mesmo que dizer: jovens. Tanto os que estudam, quanto aqueles
que são “estudantes profissionais dos protestos”. Pode-se, inclusive, misturar
uns velhinhos desempregados ou, mesmo, empregados e outros tipos de
“trombudos”, para que a massa já esteja no ponto de ser mexida. Nem é preciso
colocar fermento para que cresça. Juntando-se uma turba, com facilidade, (no
presente, mais fácil de ser convocada via internet) e, depois, introduzir
alguns especialistas em desordem pública...
Quando o
espetáculo vai esquentando, só é preciso alguns contingentes policiais para a
festa pegar fogo. Em qualquer parte do mundo, nada melhor que a polícia para
estimular a turba às paixões belicosas. Voam-se algumas pedras, ouvem-se
gritos, e são acionadas bombas de efeito moral, de fumaça, ou balas de
borracha. Um transeunte que passava na rua, por acaso, é atingido. Melhor,
ainda, se a vítima for jornalista: daí, a festança está completa. A vítima fica
ao dispor de todos. Qualquer vítima serve: dá no mesmo! Que dirá se for um
profissional da própria mídia?
E a pacífica
manifestação passa aos estágios de violentos protestos populares, turbulentos,
de sublevação, e finda como o indício de uma revolução para acabar com nossa
suposta democracia. Transmuta-se em matéria para as primeiras páginas, as
manchetes dos meios de comunicação, para os quais o mais importante é manter o
movimento. E, adeus, à pobre vitima. Algumas pessoas filosofam: “nada acontece
por acaso”.
Acredito,
porém, que o acaso precisa de um pouco de ajuda, para poder acontecer.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e
da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).
Publicação: 11.07.13 3h (Diário de Pernambuco)
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