sábado, 31 de agosto de 2013

O BRASIL ANEDÓTICO LVI



HONRARIA DISPENSÁVEL
Tobias Monteiro - "Pesquisas e depoimentos", pág. 296
Ordenada a deportação da família real, foi escalado para comboiar o Alagoas até Lisboa o couraçado Riachuelo, navio de marcha demorada e que, em péssimo estado, parava frequentemente para consertar as caldeiras. Aborrecido com isso, que lhe retardava a viagem, o Imperador pediu ao comandante Pessoa, do Alagoas, que mandassse um recado ao comandante do navio de guerra.
- Diga a esse moço - pediu, - que se o Riachuelo é honraria, eu dispenso; se quer dizer receio, eu não quero voltar.
E no mesmo tom:
- O Brasil não me quer; vou-me embora.
O PRIMEIRO PASSO
J.M. de Macedo - "Ano Biográfico", vol. III, pág. 246.
Figura de relevo no Exército do Império desde os acontecimentos de 7 de abril de 1831 o major Miguel de Frias achava-se preso em uma das fortalezas, quando, na noite de 3 de abril de 1832, desembarcou na cidade, a fim de assumir o comando da tropa, que entrava na conspiração. Em caminho, amigos procuraram dissuadi-lo, pois a maior parte da guarnição não o seguiria.
- É tarde - declarou ele; - agora já dei o primeiro passo!
E seguiu para o campo de Santana, onde, uma hora depois, era desbaratado.
A ESPADA... QUE JÁ HAVIA
Anais da Constituinte Republicana, vol. I, pág. 864.
Na sessão de 24 de dezembro de 1890, da Constituinte, é posta em discussão a moção de Américo Lobo, em que o Congresso se congratula com as forças armadas pela proclamação da República. Combatido por alguns congressistas, o autor da moção sobe à tribuna para justificá-la. Não se trata de uma curvatura diante das forças de terra e mar.
- Eu, representante de um país do arado e da toga, - diz - de um país pacífico, não posso pensar que o militarismo domine jamais no Brasil.
E num audacioso lance de eloquência:
- Para que tal se desse, seria preciso que houvesse uma espada tamanha como o diâmetro da terra!
BESTA DE SEGE
O conselheiro Dr. Manuel Luiz Álvares de Carvalho, que redigiu os primeiros estatutos do curso médico-cirúrgico do Rio de Janeiro, era um caráter altivo e, apesar do tempo em que vivia, um espírito independente.
Saía o Dr. Manuel Luiz, certa vez, do Paço, onde fora como profissional, quando encontrou em um dos corredores uma das damas de honor puxando o carro do príncipe D. Sebastião. Sendo isso, então, uma honraria, achou a dama que o médico se sentiria desvanecido com a distinção e ofereceu-lhe um dos cordões do carro para puxar.
- Dê V. Excia. a honra de puxar o carro do Infante a quem quiser, - respondeu, azedo, o velho cirurgião.
E indignado com as baixezas da época:
- Eu não sou besta de sege!
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).

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