Por Ricardo
Alcântara (*)
Não “só ao jornal O Povo”, como disse o governador: a
muitos não pareceu razoável que o palácio de governo pague uma média diária de
três mil reais em serviços terceirizados de alimentação. O trocadilho é infame,
mas inevitável: está salgado...
Mas nem vou me deter em razoabilidade. Meus
hábitos de consumo são modestos e não me habilitam a conferir as comandas de
quem governa um povo pobre com privilégios de um sultão iemita sentado em
barris de petrodólares.
A tarefa, deixo para tribunais de contas e parlamentares
que, como Heitor Férrer, cumprem suas atribuições de fiscalizar os atos do
executivo, ainda que sob acusação de oportunismo e execração generalizada à sua
árvore genealógica.
No episódio – de resto, uma previsível confirmação de um
habitual pendor para o supérfluo – mais atenção chamou a reação do governador,
desproporcional nos termos e desprovida de veracidade na sua improvisada
argumentação.
Disse ele ter herdado contratos do governo anterior.
Mentiu. Seu governo licitou a empresa. E duas vezes. Ainda que tenha sido
sempre assim, eventual desvio de conduta anterior não o tornaria imune a igual
juízo em caso de persistir no erro.
Indecorosa, de assustadora virulência, a afirmação de que
o denunciante pertence, em sua cidade de origem, a uma família na qual ninguém
é honesto. É provável que tenha ofendido a alguns eleitores seus, senão ao
sentimento de toda a cidade.
Como antes tentara já com os “maconheiros do Cocó”,
repete agora que somente ao jornal O Povo interessa noticiar o que lhe parece
irrelevante, quando, de fato, para seu estilo a mídia nacional já reserva
espaços em pautas de abordagem folclórica.
A combinação de agressividade nos termos e conteúdo
inconsistente revela um homem emocionalmente esgotado, quando seus índices de
aprovação já declinam sob a trilha furiosa dos tiroteios que fazem de sua
polícia a impotência fardada.
Talvez lhe desespere descobrir que, à percepção pública,
aspectos negativos de sua gestão se sobreponham àquilo que ele considera
promissor em sua governança. É assim mesmo, governador: um viaduto não compensa
um revólver na cabeça.
Entre a dispendiosa construção de uma ponte paisagística
e nossas vidas, optamos por ficar mais uns dias por aqui. Entre a obra de um
majestoso aquário e a paz em nossas ruas, ao mar com os peixes: queremos é
nossos filhos longe dos traficantes.
E sabe aquele estaleiro barulhento que você queria enfiar
como uma faca no peito da cidade? Maior bem nos fará sair às ruas sem medo de
morrer na esquina. São nossas escolhas, governador. Você fez as suas. E aí,
muita calma nessa hora...
(*) Jornalista e
escritor. Publicado In: Pauta Livre.
Pauta Livre
é cão
sem dono. Se gostou, passe adiante.
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