segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O BRASIL ANEDÓTICO LVII


CONSELHO DE MESTRE

Contada pelo deputado Luís Domingues ao colecionador.

Ao chegar ao Rio de Janeiro em 1886, Luiz Domingues, que foi presidente do Maranhão, e deputado federal, procurou Cotegipe a fim de entregar-lhe uma carta de recomendação. O velho estadista deu-lhe alguns conselhos, e, à despedida, acentuou:

- Meu filho, procure nunca ser de todos ao mesmo tempo. Dizem que, "quem não tem vergonha todo o mundo é seu"; a verdade, porém, é que, quem não tem vergonha, é que é de todo o mundo.

OS ÚLTIMOS MALCRIADOS

Alberto Rangel - "Pedro I e a Marquesa de Santos", pág. 41.

Chegado do estrangeiro, onde se havia demorado, o Visconde de Barbacena, foi ao palácio de São Cristóvão visitar o Imperador. E um dos primeiros cuidados deste, com a amizade que votava ao discreto titular, foi mostrar-lhe o Príncipe Imperial, que seria Pedro II e andava apenas pelos dois anos de idade.

- Este - disse-lhe o soberano, agradando o pirralho; - este será bem educado; hás de ver.

E como quem se conhece:

- Eu e o mano Miguel havemos de ser os últimos malcriados da família!

A ABDICAÇÃO DE PEDRO I

J.M. de Macedo - "Ano Biográfico", vol. III, pág. 232.

Os fatos desenrolados na noite de 6 para 7 de abril de 1831 puseram em relevo todas as qualidades de energia e de orgulho do primeiro Imperador do Brasil. Formada no Campo de Santana, a guarnição da capital exigia a reintegração do ministério de 20 de março, demitido na véspera. Passava e meia-noite quando o brigadeiro Lima e Silva, comandante das armas, despachou para S. Cristóvão o major Miguel de Frias, pedindo a Sua Majestade que cedesse à vontade do povo e da tropa.

- O mesmo ministério, de forma alguma! - declarou, peremptório, Pedro I, ao ouvir o emissário. - Isso é contra a minha honra e contra a Constituição. Antes abdicar. Antes a morte!

Refletiu, porém, um instante, pediu ao oficial que esperasse, e, entrando para um compartimento próximo, voltou, momentos depois, com um papel na mão.

- Aqui tem a minha abdicação, - declarou, entre a surpresa dos presentes, entregando ao major Frias a folha de papel.

E comovido, entre o silêncio de todos:

- Desejo que sejam felizes. Eu me retiro para a Europa, e deixo um país que sempre amei, e tanto amo!

Eram duas horas da manhã.

A FAMILIARIDADE DE FLORIANO

Serzedelo Correia - "Páginas do Passado", pág. 41.

Na noite em que Deodoro assinou o decreto dissolvendo o Congresso, Serzedelo Correia, informado disso, às onze horas, pelo deputado Urbano Marcondes, correu a comunicar o fato a Floriano, que morava, então, em Santa Alexandrina. Ao bater na porta, em companhia de Sampaio Ferraz e Aníbal Falcão, que encontrara tomando cognac, no Café de Londres, acorreu do fundo da casa quase às escuras a ordenança do futuro consolidador.

- O marechal está acordado ? - indagou.

- Está.

- Vai dizer-lhe que o tenente-coronel Serzedelo precisa falar-lhe.

Entraram os três.

Floriano recebeu-os na sala de jantar, em ceroulas, com um candeeiro na mão.

Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).

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