Por Ricardo
Alcântara (*)
Os dias
que antecedem ao cinco de outubro, data limite para filiações partidárias com
vistas às eleições seguintes, costumam expor as vísceras do sistema político
brasileiro na sua feição mais grotesca. Neste 2013, vê-se o halloween
de sempre.
Os
profissionais do ramo pulam das canoas e tomam outras de assalto como os ratos
se agitam nos naufrágios. A ordem é sobreviver. E, todos sabem, “fora do poder
não há salvação”. E o poder é a razão final das querelas e seus queixumes.
Não o
poder desejado como meio de realização daquilo que lhes parece, segundo suas
doutrinas políticas, o mais necessário ao interesse comum, o que seria
legítimo, mas como instrumentação de motivações patrimonialistas e vícios
afins.
Se os
que abdicam de compartilhar a robusta arca dos governos e seguem novos rumos
não se apressam a explicitar suas diferenças na expressão substantiva que
justificaria a desídia, tampouco os que ficam alegam relevâncias reconhecidas.
Luta-se,
enfim, para permanecer no poder ou alcançar mais poder e, ainda no caso dos que
bordejam à míngua as muralhas do palácio, voltar a frequentá-lo pela via do
confronto, uma vez que nunca mais lhes convidaram para os licores do baile.
No
sacolejo dos últimos instantes, quando os prazos já conspiram contra a
serenidade, partidos que até ontem detinham a hegemonia política dos
territórios murcham como maracujá de xepa e voltam a ser o que sempre foram:
letrinhas.
Outros,
já do chão se erguem frondosos, anabolizados por filiações em massa de aliados
do governo, e a clareza de suas motivações doutrinárias é inversamente
proporcional à volúpia com que muitos já se esgueiram para assinar suas fichas.
Partidos
cujos principais tutores nem mais se ocupam em disfarçar motivações. Como disse
o paulistano Gilberto Kassab sobre o partido que ele mesmo fundou: “Nem de
direita, nem de esquerda, nem de centro”. Governista, é o bastante.
A tudo
isto assiste um momento em que a representatividade alcança crítico
desprestígio popular: os cidadãos brasileiros estão cada vez menos interessados
nos políticos, mas, pior para eles, cada vez mais interessados em fazer
política.
Diga-se:
cada vez mais predispostos a fazer a política que lhes interessa, que não
coincide com aquela de que se ocupam os políticos profissionais, e desafiam os
surrados conceitos firmados nos velhos manuais da Guerra Fria.
Ao ver
como se movem no prazo limite para nova acomodação partidária, fácil perceber
que, apesar do ronco das ruas, os latifundiários do voto, ladeados por escoltas
fisiológicas, ainda não baixaram os vidros das limousines. Ou estão
surdos.
(*) Jornalista e
escritor. Publicado In: Pauta Livre.
Pauta Livre
é cão
sem dono. Se gostou, passe adiante.
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