segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Eduardo e Marina: riscos e oportunidades de uma aliança



Por Ricardo Alcântara (*)
O governador dos pernambucanos toca adiante uma gestão de bons índices e alguns méritos, desempenho que, somado a vocação política de berço, faz dele hoje liderança sem rivalidades no estado que governa. Pernambuco é Eduardo Campos.
Somou-se à eficiência uma boa dose de sorte: nenhum estado ao Norte de Brasília recebeu tantos investimentos de patrocínio público quanto Pernambuco nos anos de governo do conterrâneo Lula. Quem viu aquilo, sabe: é coisa de pai para filho.
É essa, a sua base de confiança para a decisão recente de disputar uma eleição presidencial no próximo ano: Eduardo se julga capaz de convencer o Brasil de que pode fazer por ele mais do que se vê feito agora por Dilma, sua parceira.
Pois se são muitas as ressalvas que faz ao atual governo, andou muito calado por esses dias todos: dele, nunca se ouviu – nos tempos que antecederam a decisão tanto quanto agora – nenhuma crítica mais substantiva ao que está aí.
Sem que tenha construído um discurso de gradual discrepância, a candidatura presidencial do antigo aliado, um carimbado governista, foi ao mercado com o desafio de superar o signo carreirista com o vislumbre de novas perspectivas.
Devolvidos os cargos na esfera federal e desprendido das obrigações éticas daí decorrentes, entrega-se agora à segunda etapa: balizar as diferenças que em seu projeto justifiquem a ruptura em medida suficiente para uma candidatura.
Eduardo não iria muito longe nisso: sabe da boa margem de prestígio popular do governo e, parceiro longevo na obra que dele receberá agora tardias restrições, tem suas digitais impressas também nas decisões controvertidas dessa gestão.
De acordo com o trajeto definido no início da jornada, deixaria para o tucano Aécio Neves, com os ônus decorrentes, a personificação de opositor ideológico do petismo e tentaria ocupar o espaço intermediário da convergência moderada.
“O que é bom pode melhorar” seria a batida do samba. Não o oposto, mas o contraste: romper a dicotomia política entre tucanos e petistas com um concerto político permeável ao arrojo empreendedor, sem abdicar das conquistas sociais.
E, assim, como uma eventual vitória sua não seria para o PT pior notícia do que devolver Brasília aos tucanos ou entregá-la aos sonháticos de Marina Silva, não seria muito combatido por eles antes que se desenhasse o perfil do segundo turno.
Era este o mapa, mas o território mudou. Com o inesperado apoio oferecido por Marina Silva à sua candidatura, e naturalmente aceito, seu posicionamento estratégico sofre uma inflexão que o afasta mais daquele ponto de equidistância.
Isso porque, embora seja Marina, como ele e até muito mais que ele, um rebento das forças que hoje se concentram no governo Dilma, a seringueira atua numa dimensão crítica mais radical sobre os rumos dados ao país pelo chamado Lulismo.
A aliança com Marina Silva oferece a ele a oportunidade de uma maior sintonia com o coração das ruas e amplia sua base de apoio popular, mas exige dele maior disposição para se expor ao risco de contrariar expectativas do status quo.
Ao lado dela – cujo aval higieniza seu projeto, mas lhe impõe uma sobrecarga de independência – para agentes como Rede Globo e FIESP o seu potencial de adoção como uma espécie de “Collor do bem” mergulha numa sombra de incertezas.
A partir de agora, sabe que não terá vida fácil. Os primeiros sinais do Planalto já indicam o acionamento dos mecanismos de tração que a estrutura federal dispõe para inibir a ousadia dos novos experimentos eleitorais nas bordas de sua base.
O acordo de Eduardo e Marina indica que, nos cálculos subjetivos da política, a soma de dois “anões” pode ser maior do que a estatura de um “gigante”, para usar, contra eles mesmos, a metáfora prepotente dos feiticeiros do marketing palaciano.
O fato é que, até então, as peças apenas estavam postas sobre o tabuleiro. Agora, os dados começaram a girar. Não será uma eleição fácil, isto eles já sabem por lá.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.
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