Por Ricardo
Alcântara (*)
O governador dos pernambucanos toca adiante uma gestão de
bons índices e alguns méritos, desempenho que, somado a vocação política de
berço, faz dele hoje liderança sem rivalidades no estado que governa.
Pernambuco é Eduardo Campos.
Somou-se à eficiência uma boa dose de sorte: nenhum
estado ao Norte de Brasília recebeu tantos investimentos de patrocínio público
quanto Pernambuco nos anos de governo do conterrâneo Lula. Quem viu aquilo,
sabe: é coisa de pai para filho.
É essa, a sua base de confiança para a decisão recente de
disputar uma eleição presidencial no próximo ano: Eduardo se julga capaz de
convencer o Brasil de que pode fazer por ele mais do que se vê feito agora por
Dilma, sua parceira.
Pois se são muitas as ressalvas que faz ao atual governo,
andou muito calado por esses dias todos: dele, nunca se ouviu – nos tempos que
antecederam a decisão tanto quanto agora – nenhuma crítica mais substantiva ao
que está aí.
Sem que tenha construído um discurso de gradual
discrepância, a candidatura presidencial do antigo aliado, um carimbado
governista, foi ao mercado com o desafio de superar o signo carreirista com o
vislumbre de novas perspectivas.
Devolvidos os cargos na esfera federal e desprendido das
obrigações éticas daí decorrentes, entrega-se agora à segunda etapa: balizar as
diferenças que em seu projeto justifiquem a ruptura em medida suficiente para
uma candidatura.
Eduardo não iria muito longe nisso: sabe da boa margem de
prestígio popular do governo e, parceiro longevo na obra que dele receberá
agora tardias restrições, tem suas digitais impressas também nas decisões
controvertidas dessa gestão.
De acordo com o trajeto definido no início da jornada,
deixaria para o tucano Aécio Neves, com os ônus decorrentes, a personificação
de opositor ideológico do petismo e tentaria ocupar o espaço intermediário da
convergência moderada.
“O que é bom pode melhorar” seria a batida do samba. Não
o oposto, mas o contraste: romper a dicotomia política entre tucanos e petistas
com um concerto político permeável ao arrojo empreendedor, sem abdicar das
conquistas sociais.
E, assim, como uma eventual vitória sua não seria para o
PT pior notícia do que devolver Brasília aos tucanos ou entregá-la aos sonháticos
de Marina Silva,
não seria muito combatido por eles antes que se desenhasse o perfil do segundo
turno.
Era este o mapa, mas o território mudou. Com o inesperado
apoio oferecido por Marina
Silva à sua candidatura, e naturalmente aceito, seu posicionamento
estratégico sofre uma inflexão que o afasta mais daquele ponto de
equidistância.
Isso porque, embora seja Marina, como ele e até muito
mais que ele, um rebento das forças que hoje se concentram no governo Dilma, a
seringueira atua numa dimensão crítica mais radical sobre os rumos dados ao
país pelo chamado Lulismo.
A aliança com Marina Silva oferece
a ele a oportunidade de uma maior sintonia com o coração das ruas e amplia sua
base de apoio popular, mas exige dele maior disposição para se expor ao risco
de contrariar expectativas do status quo.
Ao lado dela – cujo aval higieniza seu projeto, mas lhe
impõe uma sobrecarga de independência – para agentes como Rede Globo e FIESP o
seu potencial de adoção como uma espécie de “Collor do bem” mergulha numa
sombra de incertezas.
A partir de agora, sabe que não terá vida fácil. Os
primeiros sinais do Planalto já indicam o acionamento dos mecanismos de tração
que a estrutura federal dispõe para inibir a ousadia dos novos experimentos
eleitorais nas bordas de sua base.
O acordo de Eduardo e Marina indica que, nos cálculos
subjetivos da política, a soma de dois “anões” pode ser maior do que a estatura
de um “gigante”, para usar, contra eles mesmos, a metáfora prepotente dos
feiticeiros do marketing palaciano.
O fato é que, até então, as peças apenas estavam postas
sobre o tabuleiro. Agora, os dados começaram a girar. Não será uma eleição
fácil, isto eles já sabem por lá.
(*) Jornalista e
escritor. Publicado In: Pauta Livre.
Pauta Livre
é cão
sem dono. Se gostou, passe adiante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário