Nasceu o poeta José Valdivino de Carvalho, em Água Verde, povoado
então pertencente a Pacatuba, no Ceará, no dia 25 de fevereiro de 1911, filho
de Pedro Lopes de Sá e Antônia Valdivino de Sá.
Em 1922, aos 11 anos deixa o aprazível Engenho Livramento, onde
morava, para iniciar seus estudos no Seminário Arquidiocesano de Fortaleza, o
conhecido Seminário da Prainha, reduto da formação de inúmeros intelectuais,
que brilharam e enriqueceram a cultura e a política cearenses.
Em 1929, passa a residir com seu pai adotivo, o Cel. Juvenal de
Carvalho, no palacete localizado à rua Floriano Peixoto, Nº 1.171, e a estudar
com os Irmãos Maristas no Colégio Cearense Sagrado Coração.
Bacharelou-se, em 1938, em Direito pela Faculdade de Direito do
Ceará, unidade que viria integrar em 1954, a Universidade Federal do Ceará. No
entanto, nunca militou na advocacia, porquanto o embate e a divergência entre
as partes produziam um sofrimento no imo de sua alma, face à bondade imperante
em suas ações, imbuído que era do total desprendimento para com o próximo,
calcado na doutrina cristã que abraçara e pautara a sua existência.
Homem de convicção religiosa sólida, católico fervoroso, sentia-se
engrandecido por pertencer à associação dos Irmãos do Santíssimo e exercer o
Ministério Extraordinário da Eucaristia. Por suas estreitas relações com o Sr.
Arcebispo metropolita, Dom Antônio de Almeida Lustosa, engajou-se na criação e
implantação da Associação de Educação Familiar e Social de Fortaleza, que daria
guarida ao Instituto Social de Fortaleza.
Em 2 de março de 1935, desposou a jovem Maria Adamir Correia
Leitão, com quem teve nove filhos, formando a todos, e legando ao Ceará uma
plêiade de filhos talentosos e valorosos cidadãos.
O seu ganha-pão foi, sobretudo, decorrente da atribuição de
professor de português e francês, ensinando em várias escolas de Fortaleza,
como o Colégio das Dorotéias, o Colégio Juvenal de Carvalho, das Irmãs
Salesianas, o Castelo Branco e o São José, tendo alcançado o acme no
magistério, como Diretor da então Escola Normal Justiniano de Serpa,
tradicional centro de formação das professoras primárias.
Em 15 de agosto de 1953, dia de Nossa Senhora da Assunção, a
padroeira desta Fortaleza, chega a “imortalidade terrena”, ao assumir a Cadeira
Nº 11, da Academia Cearense de Letras, patroneada pelo médico e historiador
Barão de Studart.
No dia 15 de outubro de 1974, no salão de honra do Palácio da
Abolição, recebeu das mãos do então Governador do Estado a Medalha Justiniano
de Serpa.
Pertenceu ainda à Academia Cearense de Língua Portuguesa e ao
Instituto Cultural do Vale Caririense.
José Valdivino de Carvalho destacou-se sobremaneira como escritor,
tendo publicado vários livros, alguns dos quais convém ressaltar. O primeiro
deles, “Florilégio”, impresso pela Tipografia Santos, em 1938, foi uma
compilação das perorações do seu tio avô, o Pe. Valdivino Nogueira, um notável
tribuno sacro. Em “O Perigo da Coeducação”, editado em 1939, traduziu o
pensamento católico da época que se insurgia contra a possibilidade da educação
de jovens, em colégios mistos. “Ma Grammaire Française”, impresso em 1940, pela
Editora A Fortaleza, foi um didático livro para aprendizado da língua francesa.
Em 1942, estreou na ficção, quando trouxe a lume, “A Flor da Jurema”, obra que
pode ser qualificada no gênero romance.
Publicou ainda, em 1943, “A Poética do Padre Antonio Tomás” e
“Pontos de Português”. Por intermédio da Editora e Gráfica Tipogresso, lançou,
em 1975, “Você e a Crase”, e, em
1980, “O Étimo de Valdivino”. Em
1984, escreveu onze pequenos contos e ao final de alguns teceu mensagem de
cidadania, de moral e ética para seus netos. Por fim, publicou “Historinhas
Para Meus Netos e Bisnetos”, recriando, em uma linguagem acessível às crianças,
contos infantis que escutara de sua ama, quando menino no Engenho Livramento.
No entanto, foi principalmente como poeta que José Valdivino de
Carvalho se projetou entre os seus pares, pranteando a saudade de sua bucólica
terra, ratificando o amor sem limites por sua Maria Adamir. O seu primeiro
livro de versos, “Coração”, foi publicado em 1939. A obra “Tardes sem
Sol”, editada pela Secretaria de Cultura do Estado do Ceará em 1978, foi o
coroamento da maturidade lírica do grande vate.
Por mais de quatro décadas, empregou a sua velha e querida máquina
de escrever como instrumento de trabalho, pontificando como articulista de
diversas revistas, a exemplo da revista Valor, da qual foi colaborador por
alguns anos; da Revista da Academia Cearense de Letras, em que registrou mais
de uma dezena de ensaios de inegável reconhecimento cultural; e da revista
Verdes Mares, órgão oficial do grêmio estudantil do colégio marista, que serviu
de berço para o desabrochar de jovens escritores no Ceará.
Não menor, contudo, foi a sua atuação como jornalista. Escreveu em
“O Nordeste”, jornal da arquidiocese de Fortaleza, crônica semanal, intitulada
“Às Quintas”. Essas crônicas foram regularmente divulgadas até o fechamento do
jornal, quando passaram a ser publicadas no jornal O Povo.
Voltou à Casa do Pai, em 26 de abril de 1989, quando contava 78
anos de idade, após cumprir uma existência profícua, marcada por atos de quem
sempre soube espargir o bem.
Prof. Dr. Marcelo Gurgel Carlos
da Silva
Da Academia Cearense de Medicina e
da Academia Brasileira de Médicos Escritores
* Publicado, com redução, In:
Ceará em Brasília, 24 (255): 22, outubro de 2013. (Jornal da Casa do Ceará em
Brasília).
Fonte de Dados: CARVALHO, Francisco Flávio Leitão de. O poeta José Valdivino de Carvalho. Conferência pronunciada no XXII
Congresso Brasileiro de Médicos Escritores, realizado em Fortaleza, de 4 a 7 de junho de 2008,
patrocinado pela SOBRAMES. 11p. (mimeo.).
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