Por Ricardo
Alcântara (*)
Duas
atitudes mentais extremas muito contribuem para o fracasso: o medo de perder e
a certeza de ganhar. E – é comum observar – os que sentem o primeiro costumam
ocultar tal emoção sob o uso dissimulado de argumentos do segundo.
Não
tem outra pulsão, a declaração de João Santana, assessor de Marketing do
governo petista, de que a presidente Dilma é um “gigante” eleitoral e seus
adversários “não passam de anões”: é puro temor disfarçado de onipotência.
O
jogo é jogado e o eleitor não joga a favor de ninguém, senão de si mesmo. Sim,
a presidente entra na pista com o crédito residual de um ciclo promissor, mas
leva nas costas a geladeira de nada de mais significativo ter acrescentado a
ele.
Os
ganhos mais expressivos do ciclo – crescimento econômico e pleno emprego, base
de crédito e bolsa família – já deixam de ser percebidos pela população como
benefícios emergentes e passam a ser vistos como obrigações públicas.
Das
manifestações populares deste ano guardamos um recado claro: “foi bom, mas foi
pouco”. Ou, numa versão mais generosa: “foi muito, mas não foi o bastante”. O
que parecia a explosão inicial de um processo emancipatório logo perdeu força.
E,
assim, não seria suficiente que Dilma fosse candidata apenas do muito que um
dia fizeram: precisaria injetar na sociedade a crença de que continuará
fazendo, ainda que a tudo que lhe fora legado nada tenha acrescentado de
realmente novo.
Sem
nada que possa pronunciar como mérito autoral e lhe faltando ainda carisma para
produzir momentos mágicos que realizem as substituições simbólicas da esperança
coletiva, Dilma se abre para uma disputa sem “gigantes” nem “anões”.
A
seu favor, a fragilidade objetiva dos adversários: Aécio Neves e Eduardo Campos
são desconhecidos e comprometidos – o primeiro, com a herança maldita do
governo tucano; o segundo, com tudo aquilo que até aqui fora chamado de
Lulismo.
O
principal adversário – não da Dilma propriamente, mas dos símbolos que o
governismo carrega – está nas ruas: a inquietude de uma nação que, tendo dado
contundente prova de insatisfação, se mostra sensível aos novos experimentos.
Neste
sentido, o maior risco foi superado quando Marina Silva desistiu
da disputa: ela, sim, tinha o perfil das ruas e por mais ostensivo que seja o
apoio dado agora a Eduardo Campos, não o fará encarnar tão bem o espírito do
tempo quanto ela.
E
como o eleitor só joga a favor de si mesmo, bocado servido é bocado comido:
contaminar a população com o medo de perder conquistas recentes pode não ser
suficiente para atropelar os anões. Porque o verdadeiro gigante está nas ruas.
(*) Jornalista e
escritor. Publicado In: Pauta Livre.
Pauta Livre
é cão
sem dono. Se gostou, passe adiante.
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