Rodrigo
Constantino
“Sempre
que vou aos Estados Unidos retorno com essa questão: somos um povo otário?
Afinal, adoramos nos vangloriar de nossa “malandragem”, de nosso “jeitinho”,
mas vivemos imersos em um mar de ineficiência, corrupção, carestia e
criminalidade. Há malandro demais para otário de menos por aqui.
Os
americanos são bobos, egoístas, uns capitalistas insensíveis. Mas vejam que
coisa: os serviços básicos funcionam, as estradas são boas, quase todos possuem
carros decentes, pelos quais pagaram um terço do valor que nós pagamos, e podem
andar com vidros abertos e ter casas sem muros. Que otários!
Ainda
bem que somos diferentes, desconfiamos do lucro, dos empresários, e delegamos
ao papai Estado todo nosso destino. Temos agora até universidade marxista
voltada exclusivamente para o trabalhador, para não deixá-lo “alienado”, e sim
um camarada “politizado”, engajado na luta pela justiça social. Somos muito
melhores!
Temos
um governo metido nos piores escândalos de corrupção, mas ainda favorito para
mais um mandato em 2014. A
economia não cresce, paramos de gerar empregos, a inflação continua alta
demais, cada vez mais gente depende de esmolas estatais, a carga tributária
sobe sem parar, mas ninguém parece se importar. A Copa vem aí, e somos a pátria
de chuteiras.
Após
oito anos, os mensaleiros finalmente foram presos, mas ainda tentam vender a
imagem de injustiçados. Um deles recebe amplo apoio dos artistas e
“intelectuais” da esquerda caviar, pois teria um currículo louvável (comunista
por acaso pode ter passado digno de aplausos?) e não teria roubado para si
próprio. O outro se compara a Mandela.
E o
PT faz evento oficial para defender os bandidos presos e atacar o STF, ao lado
de uma presidente da República conivente, passiva, cúmplice. Alguém pode
imaginar isso nos Estados Unidos? Claro que não. Eles não são tão compreensivos
e cordiais como nós.
Estive
em Miami e Orlando. Só brasileiro, nem preciso falar. Estamos por toda parte,
comprando e comprando. “Consumistas burgueses”, diria um típico comuna. “Classe
média fascista”, diria Marilena Chauí. Mas que mal há em desejar pagar um terço
do preço que se paga no Brasil pelos mesmos produtos? Compram em Miami os que
não são ricos a ponto de poder comprar no Brasil.
“Ah,
mas é preciso financiar a justiça social”, alegam os esquerdistas. Ora, o
governo americano é a polícia do mundo (felizmente), e nós precisamos de um
governo ainda maior em termos relativos? Haja esmola, para pobre e para rico
(BNDES).
Sem
falar que, no Brasil, reina o culto do pobrismo. As esquerdas amam a miséria,
não os pobres. E odeiam os ricos mais do que “amam” os necessitados. Não
existem abutres sem carniça, não é mesmo?
O
Brasil realmente testa nossa paciência. A impressão digital do governo inchado
está em todas as cenas do crime, mas eis que boa parte da população pede, como
solução para nossos males, mais governo! Seria cômico, não fosse trágico.
Mas
é véspera de Natal, e não quero estragar a ocasião. Quero até aproveitar a
oportunidade e fazer meus pedidos a Papai Noel. É verdade que ele tem toda
pinta de marxista: usa roupa vermelha, distribui presentes pagos por terceiros,
e coloca outros para fazer o trabalho pesado enquanto fica com a fama de
bondoso. Não importa. Faço minha lista, na esperança de ser atendido:
1. Que
o povo brasileiro possa acordar em 2014 e ter o bom senso de evitar um destino
trágico como o da Argentina ou da Venezuela para nosso lindo país.
2.
Que o funk não seja mais visto como “apenas” uma forma artística diferente, tão
boa quanto música clássica ou ópera.
3.
Que a doutrinação marxista nas nossas universidades chegue ao fim e que cada
vez mais alunos e professores tenham a coragem de se rebelar contra tal
covardia.
4.
Que a hegemonia de esquerda na política nacional seja finalmente vencida e que
algo NOVO possa surgir como alternativa.
5.
Que esses ecochatos e politicamente corretos arrumem algum passatempo
individual e nos deixem em paz para vivermos de acordo com nossas preferências
pessoais.
6.
Que todos aqueles que conseguem defender a ditadura cubana em pleno século 21
resolvam abandonar a hipocrisia e comprar uma passagem só de ida para a ilha-presídio
caribenha.
7.
Que os brasileiros passem a ler mais, de preferência bons livros.
8.
Que todos aqueles que querem “salvar o mundo” antes arrumem o próprio quarto.
9.
Que todos lembrem de que solidariedade é algo voluntário, não compulsório, via impostos
dos outros.
10.
Que nosso povo seja menos “malandro”, como os americanos.
Feliz
Natal”.
Fonte: O Globo – 24/12/2013.
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