Com a festa do Cristo-Rei, a Igreja Católica
encerra o seu ano litúrgico e abre um novo ano, com o período do Advento, que
prepara o cristão para a chegada do Menino-Deus, cujo nascimento é celebrado no
dia 25 de dezembro, entre os católicos romanos e os nossos irmãos de várias
denominações cristãs.
O tempo do Advento corresponde às quatro
semanas que precedem o Natal, começando às vésperas do domingo mais próximo do
dia 30 de novembro e se estendendo até 24 de dezembro. É um momento para a submersão
na liturgia e na mística cristã. É um tempo de esperança e de preparação alegre
para a vinda do Senhor, servindo para fortalecer os valores cristãos.
Enquanto uns se preparam, espiritualmente,
para o acolhimento ao Menino Jesus, outros observam um período preparatório bem
mais longo, iniciado logo após o Dia das Crianças, tendo por fulcro atrair
consumidores, animando-os a adquirir produtos de diversas naturezas. As pessoas
são incitadas a um consumismo exacerbado, sob os efeitos de publicidades,
apregoando a antecipação das compras de artigos, que nada têm a ver com o
espírito natalino, mediante convidativas e enganosas parcelas.
Recuando a tempos de outrora, não tão
distantes, algo como meros cinquenta anos, as lembranças dos períodos
natalinos, na Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, evocam condições bem
distintas das que hoje são verificadas.
Era um Natal inteiramente familiar, com
desdobramentos na vizinhança e na paróquia do bairro. Nos lares, as mães
retiravam do armário os enfeites natalinos e, com ajuda de filhos, montavam a
árvore de Natal, quase sempre acompanhada de uma lapinha, na qual um menino
recém-nato, mantido em uma manjedoura, era velado por seus pais, sob as vistas
dos três Reis Magos e de um séquito de pastores, com suas ovelhas espalhadas no
chão, ali representados.
Na grande Noite do Natal, as famílias
visitavam as lapinhas da igreja, acompanhavam os autos natalinos e assistiam à
Missa do Galo. Em casa, a tradicional ceia, tendo o peru como o prato principal
compartilhado por todos, era antecedida por orações, leituras e hinos
natalinos. Poderia haver trocas de presentes, como gesto de amabilidade, e as
crianças, quase sempre crédulas na estória do “Bom Velhinho”, iam dormir
ansiosas e expectantes quanto à surpresa, que teriam ao despertar, trazida pelo
Papai Noel.
Os tempos hodiernos são outros para muitas
pessoas, em que o Natal é apenas um feriado de final de ano, servindo de
pretexto para o congraçamento entre amigos, olvidando, por inteiro, o próprio
dono da festa, o aniversariante, o qual em nenhum momento é reverenciado, ou
sequer recordado, mesmo en passant,
pelos convivas.
É muito difícil remar contra a corrente: um
Natal nos moldes do passado, como o que foi retroaludido, não gera quase
ganância aos produtores, não incrementa a arrecadação de tributos e não amaina
o ímpeto de consumo dos indivíduos.
Diante do impasse, é oportuno rememorar
Machado de Assis, o Bruxo do Cosme Velho, que, no último verso de seu célebre
“Soneto de Natal”, assim proclamou: “Mudaria o Natal ou mudei eu?”.
Um Feliz Natal para todos: crentes,
agnósticos ou descrentes, pois são igualmente filhos de Deus, mesmo que não
creiam ou não queiram.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Integrante da Sociedade Médica São Lucas
* Publicado In: O Povo, de 15 de dezembro
de 2013. Caderno Espiritualidade. p. 26.
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